Por mais que estudemos a mente humana, há coisas que nos hão de passar sempre ao lado. Não sou psicóloga mas interesso-me sobretudo por comportamentos, condutas, ou seja mais para o ramo da etologia. As crianças são muito mais inteligentes do que a maioria dos adultos pensa. Para além de estarem atentas mesmo quando achamos que estão "no mundo da lua" e captarem tudo, têm uma memória de elefante. E como se não bastasse, conseguem transpor situações passadas para o futuro, fazendo como que uma previsão do que poderá acontecer. E são assertivas. Quando dizem "não" é porque não querem dizer "sim", e mantêm a sua decisão sempre igual, são honestas até serem corrompidas por um adulto com algum tipo de chantagem... Mas tal como outros indivíduos de outras espécies, as crianças não são todas iguais nem na maneira de pensar nem nos seus comportamentos. E obviamente que um mesmo estímulo poderá ter reações diferentes como resposta, dependendo de imensos fatores, sejam eles o meio ambiente, o meio em que se desenvolve a criança (família, escola, vizinhança, etc), o agregado familiar, profissões dos pais, locais que frequenta, com quem brinca e com o quê, acesso a meios de entretenimento, a cultura, a desporto, etc. E no meio disso tudo, será uma sorte encontrar as pessoas certas para a ajudar a crescer. Porque mesmo que se seja pai ou mãe e se queira bem a um filho, não é o bastante. Porque mesmo que se seja senhora professora, pode não se estar vocacionada para a pedagogia. Porque mesmo que se tenha poder económico, pode não se ter o mais importante de tudo - amor, compreensão. Saber colocar-se ao nível de uma criança não é para todos. E não me venham falar à bebé, as crianças precisam de ouvir desde o berço a correta pronuncia das palavras para estimular a fala. É necessário elogiá-las quando estão corretas ou deram o melhor de si. É necessário por vezes fechar os olhos a algo menos bem feito. É sobretudo necessário ouvi-las, dar-lhes a palavra e estar disponível para ouvir como adulto o que têm para dizer. Confiam em nós até descobrirem uma mentira. São puras, são verdadeiras. Bons ou menos bons, somos os seus modelos. Têm uma percepção incrível para nos lerem os gestos e o olhar. Têm capacidades que lamentavelmente se perdem no estado adulto e que por isso não são detetáveis pela maioria dos adultos que demasiado ocupados com futilidades, consideram as crianças seres incapazes para debater certos assuntos. Enganam-se. Deixemos-las expressar a sua criatividade em qualquer arte e aprendamos a interpretar as suas obras ! Seja música, dança, artes plásticas, teatro... deixemos que soltem o que não conseguem dizer. Permitamos que consigam prender-nos a atenção de outra forma ! Têm tanto para nos dar e temos tanto para aprender com elas !
E depois, há o conceito que formam de nós, consoante as nossas atitudes. É preciso ser cuidadoso se não, poderemos perdê-los para sempre mesmo que permaneçam ao nosso lado.
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