A grande caminhada da Vida III
Alice caminha entre a bruma. Recorda a vez em que na sua caminhada, do nada, lhe surgiu de frente um comboio que lhe parecia um comboio de sonho. Nos carris bem traçados e alinhados, ele deslizava convidativo a uma viagem de fantasia. Silencioso no andamento e leve, cada carruagem era pintada delicadamente sobre um tema que tocava as almas mais sensíveis, tornando impossível recusar entrar numa que fosse. Alice entrou. Assim que entrou, foi envolvida por uma música suave que a enebriava aliada ao toque de um ser que não via, mas que lhe fazia sentir bem. Deixou-se levar e fez uma curta viagem. Gostou muito e pensou que poderia voltar a viajar naquele comboio para outros locais, podendo assim adquirir novos conhecimentos e experiências. Guardou o local de embarque e esperou. Certo dia voltou e de novo entrou noutra carruagem. Tudo se repetiu. A música, o toque do ser que sentia mas não via, até mesmo a viagem. Alice gostava mas já conhecera o trilho. Queria mais. Queria percorrer outros caminhos a bordo daquele comboio, queria poder sugerir um outro rumo, queria animar a viagem com pó de fada e duendes, queria pô-lo a voar ! Mas parecia não haver mais passageiros para além dela... Alice embarcou uma terceira vez no comboio de sonho, ciente de que podia ser a última viagem sem ter os pés no chão. A viagem foi igual mas já sem música. O comboio não deslizou, dava pequenos saltos enquanto percorria aquele traçado habitual e cansativo já. Nada de novo. Alice chegou ao fim com uma lágrima no canto do olho. Ao descer, olhou para trás para acenar e sentiu-se observada das carruagens supostamente vazias. Não voltou a embarcar. Cada vez que o comboio passa, ele apita e ela sorri. O caminho de Alice está traçado, e deve fazer-se pelo seu pé, caminhando.
Sem comentários:
Enviar um comentário