terça-feira, 30 de junho de 2015


A grande caminhada da Vida IV

Continuava calmamente passo a passo, com o pensamento livre. Em cada passo a certeza de um caminho percorrido, deixado para trás, um tempo que não voltaria. Desde cedo que impôs a si mesma não se permitir ter saudades do passado. O que passou, passou. Nada de arrependimentos. A saudade puxa o lamento, a nostalgia do momento vivido, atrasa o andamento, encurta o caminho que se tem potencialmente pela frente. Alice levanta a cabeça para caminhar digna e decididamente, fazendo o melhor que sabe para aproveitar cada momento de vida. É então que um dos seus pensamentos fica preso na rama de uma árvore e a obriga a abrandar. Já não é uma árvore jovem. No entanto, as flores decoram-na num tom cromático do vermelho ao azul… Alice percebe pelo perfume de cada flor que se trata da árvore das suas paixões. Cada uma com um aroma. Cada aroma, um estímulo. Um estímulo para continuar em busca da paixão seguinte. A paixão pela natureza é talvez a maior e a que fundamenta todas as outras. As conversas com o mar entre a terra e o céu, o permitir que a voz da floresta entre no seu coração, deixar-se levar pelo cântico da lua ou ser abençoada pela chuva, receber humildemente a carícia do sol da mesma forma que contempla as estrelas numa noite de Verão… ahhh e as noites de trovoada em que cada relâmpago a recarrega de vida ! Alice sente-se poderosa nessas noites de imensa carga elétrica ! Ai… tanta paixão em flor nesta árvore… vem daí toda a força que a move, que a impulsiona no seu caminho de vida, pois a paixão é fogosa, quente, ardente e as raízes da sua árvore estendem-se até tocarem nas raízes da árvore do amor. Alice é apaixonada pela vida e assim continuará. Arruma o pensamento e segue, com esperança. Sempre.

Preciso de ti. Mais do que me parece. Sim, fui eu que disse isso - preciso de ti. Estás em mim em cada dia, desde o acordar ao deitar. Estás em cada gesto, pensamento, palavra dita ou pensada, em cada sorriso ou lágrima. Estás tu, e estão todos os outros e outras que fizeram ou fazem parte da minha vida. Sou um pouco de tudo o que vou conhecendo, sou um pouco de cada um de vós. Desde o sorriso da criança captado em Pedra de Lume ao "bom dia" que troco com quem vem de frente e não conheço verdadeiramente. Estão em mim. E de tempos a tempos recordo momentos que julgava esquecidos, acionados por qualquer leitura ou cheiro que paira no ar. Mesmo que queira virar costas a alguém, esse alguém está em mim. Tenho lacunas na memória que o meu super controle de proteção à sanidade mental lançou para o poço do desconhecido, entenda-se subconsciente. Mas ainda assim, tudo faz sentido quando relacionamos os saberes, as pessoas, os sentimentos, as atitudes. Preciso de todos porque todos contribuem para o que sou hoje. É por isso que preciso de ti, fazes parte do meu mundo. Como dizia o Antoine, "aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós". Também estou em ti de alguma forma. Eu sei.

segunda-feira, 29 de junho de 2015


Resultado de imagem para ralhar com filho

Ontem, para além do insuportável calor que se fazia sentir ao fim da manhã, houve um outro fator que me fez acelerar a saída da praia. Uma família de casal e dois filhos, o menino com uns10 anos e a menina ligeiramente mais nova "aterraram" quase colados às nossas coisas, colocando as suas quase debaixo da sombra do nosso chapéu de sol. Mas tudo bem, só queríamos a sombra para o lanche não aquecer. Eles não tinham qualquer tipo de sombra, nem mesmo chapéus nas cabeças nos miúdos. Assim que estenderam os seus pertences pela areia, o miúdo quis comer. Apercebi-me que o lanche que a mãe arranjou foram umas bolachas de água e sal e a criança começou a perguntar "e para beber?". A mãe logo se irritou com as exigências do filho que propôs que o pai fosse comprar algo ao café mais próximo. Bem, não estão a ver o que ela gritava com o miúdo, a pedir um pouco mais de educação ! O pai nunca abriu a boca e lá foi comprar um leite com chocolate para cada filho. O menino lanchou descansadamente debaixo do nosso chapéu em silêncio. (Tive pena, a sério). Depois a mãe ainda ralhou com a filha pois não podia ter um bago de areia na toalha, onde até tinha os pés cuidadíssimos. Antagonicamente, atrás deles estava uma família de pais e filho em que debaixo de dois chapéus de sol, o pai fazia um buraco enorme e o filho outro, enquanto a areia invadia naturalmente aos poucos o território ocupado pela mãe. Sem stress. Fui para água gelada com a minha filha também ela atenta a tudo o que se passava ali. Daí a uns minutos vejo a mãe a passar entre pessoas à beira da água. Foi buscar os filhos aos gritos que andavam a brincar um pouco longe com uma prancha de outros amigos instantâneos. Nada de pai. A situação foi contínua. A voz da senhora já me irritava os tímpanos. O filho não podia abrir a boca que era sempre contrariado. E calou-se em todas as vezes. Só se ouvia a voz da mãe. O calor apertava e cada vez chegava mais gente. Decidi que estava melhor em casa e comecei a arrumar tudo para ir embora dali. Ainda tive tempo de assistir a mais uma. A mãe achou que nos brinquedos de praia estava algo que não era dos filhos ao que o menino disse que sim, era deles. A mãe: "Cala-te já ! Sabes melhor que eu, queres ver ?" e ele calou-se. O pai nem se mexeu.
Que família és esta ? Não, que afinidade têm estes elementos entre si ? Que problemas esconde aquela mãe ? O que será destas crianças num futuro próximo ? E que figura masculina representa o pai ? que modelo ? No meio disto tudo, há a louvar que a mãe foi à procura dos filhos e nunca lhes levantou a mão. Só isto. Não vi qualquer gesto de amor entre estes quatro elementos. Lamentavelmente, nem entre os irmãos.
A complementar, aconselho a leitura de Que tipo de mãe é você ?

sexta-feira, 26 de junho de 2015

A grande caminhada da Vida III

Alice caminha entre a bruma. Recorda a vez em que na sua caminhada, do nada, lhe surgiu de frente um comboio que lhe parecia um comboio de sonho. Nos carris bem traçados e alinhados, ele deslizava convidativo a uma viagem de fantasia. Silencioso no andamento e leve, cada carruagem era pintada delicadamente sobre um tema que tocava as almas mais sensíveis, tornando impossível recusar entrar numa que fosse. Alice entrou. Assim que entrou, foi envolvida por uma música suave que a enebriava aliada ao toque de um ser que não via, mas que lhe fazia sentir bem. Deixou-se levar e fez uma curta viagem. Gostou muito e pensou que poderia voltar a viajar naquele comboio para outros locais, podendo assim adquirir novos conhecimentos e experiências. Guardou o local de embarque e esperou. Certo dia voltou e de novo entrou noutra carruagem. Tudo se repetiu. A música, o toque do ser que sentia mas não via, até mesmo a viagem. Alice gostava mas já conhecera o trilho. Queria mais. Queria percorrer outros caminhos a bordo daquele comboio, queria poder sugerir um outro rumo, queria animar a viagem com pó de fada e duendes, queria pô-lo a voar ! Mas parecia não haver mais passageiros para além dela... Alice embarcou uma terceira vez no comboio de sonho, ciente de que podia ser a última viagem sem ter os pés no chão. A viagem foi igual mas já sem música. O comboio não deslizou, dava pequenos saltos enquanto percorria aquele traçado habitual e cansativo já. Nada de novo. Alice chegou ao fim com uma lágrima no canto do olho. Ao descer, olhou para trás para acenar e sentiu-se observada das carruagens supostamente vazias. Não voltou a embarcar. Cada vez que o comboio passa, ele apita e ela sorri. O caminho de Alice está traçado, e deve fazer-se pelo seu pé, caminhando.

quarta-feira, 24 de junho de 2015



Continuamos a viver numa sociedade patriarcal e fortemente machista, que estigmatiza a mulher que não é a típica esposa ideal e mãe de filhos, super mulher em tudo o que faz, sem ter tempo livre para si. Depois de tantos anos de luta, do direito ao voto, do direito a aprender a ler, depois da evolução verificada sobretudo a partir dos anos 70, poder usar calças ou mini saia, da conquista do lugar da mulher na sociedade de trabalho, depois de se ganhar o direito a ter ou não filhos, o direito a optar por amamentação ou aleitação, … como é que a palavra “divórcio” causa repulsa ? Como é que a simples ideia da palavra pode só e apenas causar sentimentos negativos ? Por favor… chega de hipocrisia !!! Comecei bem o dia como se vê... e a pessoa pôde falar à vontade pois nem me conhece. (Convém dizer que a pessoa em questão é católica praticante e aconselha casais em risco - mas não me sinto menos católica que ela por não ir todos os domingos à missa, aliás, sou bem menos agressiva em qualquer discurso). Como é claro, todas as famílias têm problemas. Ora, nem os problemas são iguais para todas, nem as famílias agem da mesma forma perante as dificuldades enfrentadas. Há as famílias que tentam resolver os problemas e que por vários motivos conseguem ultrapassar essas fases menos boas, e há as que embora tentando (todas tentam !) não conseguem resolver também por motivos vários. Serão essas condenáveis ?! Já chega !! O divórcio existe para dar outra oportunidade para se ser feliz quando a primeira fracassou. É bom não se ser “obrigado” a algo para a vida toda. É bom haver segundas oportunidades em tudo na vida. Ninguém tem que ser o melhor à primeira vez que tenta. A situação de cada um, é isso mesmo – a situação de cada um, o que quer dizer que é única. E sabemos que uma grande parte das famílias que têm o casal junto, infelizmente às vezes não passa de uma fantochada, sorriem as mães aos filhos para depois chorarem assim que se fecha a porta. Têm o pai à mesa à hora de jantar, mas falta na final do campeonato e nem sabe quem são os amigos do filho. Às vezes mais vale a separação que responsabiliza, que divide papéis, que fomenta o aproveitamento do tempo partilhado, que torna importante a companhia e a conversa. Um divórcio não pode ser visto como um fim mas sim como um recomeço. A mulher divorciada se andar cabisbaixa é a “coitada” e “infeliz”. Se andar bonita e com o astral animado é catalogada com uma lista de nomes de animais e afins. Parem com a estupidez de uma vez e aceitem a diversidade de situações pois o mundo é mais rico e bonito se nos aceitarmos uns aos outros, sem querermos intervir no caminho que cada um escolhe.

terça-feira, 23 de junho de 2015

A velhice é um estádio da vida dificilmente aceite. Não se podendo ser jovem para sempre, as alterações externas evidenciam-se quase sempre primeiro que as internas. É a ruga ao canto dos olhos e da linha do sorriso, o cabelo branco que surge irreverente no meio dos outros, os pés começam a implorar mais conforto que elegância, a pele das mãos que engrossa, a redefinição do corpo… vai chegando a pouco e pouco e parece que ninguém a quer receber. Desencadeia-se uma luta desenfreada contra  os sinais com variados produtos naturais e químicos, como se alguém pudesse ir contra o tempo, esse tempo contínuo e infinito por onde passamos uma única vez. Não nos devemos enganar a nós próprios pensando que estamos a iludir os outros pois há consequências em cada decisão que tomamos. De que serve correr a injetar botox para depois ter que recorrer a uma manutenção permanente ? Imagine-se que a vida muda para pior em 6 meses e se mantém – o envelhecimento reaparece ! Perdeu-se a magreza e recorre-se a todo o tipo de produto milagroso no mercado para recuperar a silhueta, e depois ? Espero que as pessoas pensem que há consequências a nível da saúde, de que serve estar magro e doente, sem brilho nos olhos e vontade de viver ? Ainda no outro dia li sobre a hipotética situação do aumento de hemodiálise nos próximos 20 anos, na sequência de dietas loucas, pois os rins são os órgãos mais afetados. Talvez fosse melhor procurar um endocrinologista. Tenham juízo. Aproveitem cada momento da vida, pois cada idade tem as suas recordações sejam elas boas ou más, mas próprias de cada estádio de vida. O aspeto exterior  é o reflexo do estado interno, por isso mexam-se, façam ginástica, tratem das articulações e não deixem a parte óssea sem atenção, passeiem na Natureza, apreciem a vida, alimentem a alma, como diz uma amiga minha “não vivam com a natureza, vivam na natureza”. Não queiram voltar aos 20 anos porque de certeza que se tinha muita energia mas pouca sabedoria. Leiam, aprendam qualquer coisa diferente do habitual, falem com pessoas novas, troquem ideias, ganhem conhecimento e transformem-no em sabedoria, apliquem-no. Foi todo o passado que fez o nosso presente. Se não tivesse sido o que foi, hoje não seria o que é. Foi muito bom ser criança. Hoje é muito bom ser mãe. Será ótimo se chegar a ser avó. Mas se não o for, pelo menos espero chegar à velhice com discernimento e bom humor associados a qualidade de vida. Acho que são as características essenciais para enfrentar o dia a dia. Já o meu avô dizia “nunca percas a criança que há em ti” e o meu pai segue esse conselho do seu pai, que já me foi transmitido para que o siga de igual forma. Não se esqueçam que uma pele sem rugas corresponde a um corpo sem história. E todos temos a nossa história, não é …?



Para ajudar, já depois desta publicação, li isto .

segunda-feira, 22 de junho de 2015


Somos tão burros. Queremos tanto estar com aquela pessoa e não estamos por teimosia. Ou porque receamos o desconhecido. Ou porque sabemos o conhecido... ou conhecemos o sabido (teve graça agora a troca de palavras). As relações entre as pessoas deviam ser mais simples. Pelo menos entre as pessoas adultas. Complicamos demais o que é relativamente simples. As crianças não complicam. Se gostam ou não gostam demonstram-no sem culpas. Estão-se nas tintas para o que os outros pensam. São espontâneos. Infelizmente quando somos adultos, quase todo o gesto e atitude é previamente pensado, formatado. E sofremos com isso. Ficamos tão contentes quando rimos durante uns minutos seguidos, que nos emocionamos e perdemos uma lagrimita... quando transmitimos o verdadeiro sentimento num abraço, ficamos sem jeito no segundo seguinte. Sejamos crianças mais vezes, pois seremos mais honestos e mais felizes.

sexta-feira, 19 de junho de 2015



Férias! É tudo o que desejo. O maior grande prazer das férias é não ter hora marcada para nada, logo seguido da despreocupação da conjugação diária de roupa e calçado. Veste a t-shirt, o calção, calça o chinelo, prende o cabelo com um elástico, mete os óculos de sol e sai com um sorriso. Destino: praia ! Caminhar na areia, sentir a carícia do sol na pele, o mergulhar noutro mundo e literalmente refrescar as ideias é uma sensação incomparável ! Não ter almoço marcado e despertar o apetite com o cheirinho do peixe assado, poder dormir à tarde, ler aquele livro que há tanto tempo se queria ler, dançar, dar umas pinceladas em qualquer superfície lisa dando aso à veia artística... terminar o dia com uns petiscos entre amigos, ver o pôr do sol, assistir a um concerto a meio da semana, conhecer novas pessoas, rir, rir muito. É altura do relaxe, é o momento de desfrutar e estar disponível, sobretudo para amar, para sentir, para esquecer problemas. Se vais ou estás quase a ficar de férias, aproveita cada momento para te sentires bem.

Porque gostei de ler, porque acho importante partilhar o que li, o blog a que se refere e tudo o que o envolve, aqui vai...

O primado dos bens interiores



Cada pessoa é um indivíduo. Cada indivíduo tem as suas características que o definem. Cruzamos-nos todos os dias com pessoas com personalidades diferentes. Há uns que nos atraem, outros que nos repelem. São mais os que nos atraem, felizmente. E entre esses destacam-se poucos pela maneira como nos tocam o coração. Seja o sorriso, a palavra, o "bom dia" no corredor, há qualquer coisa nessas pessoas que os torna especiais para nós. E o facto de serem especiais para nós, não quer dizer que façam algo de especial. Às vezes é a maneira como o fazem ou o momento em que o fazem. Essas pessoas são únicas nas nossas vidas, têm um lugar cativo no nosso coração e são especiais porque são dessa maneira única, agem naturalmente, está em si o que fazem, não agindo para se evidenciarem. São pessoas simples, habitualmente desprovidas de ostentação, que promovem os verdadeiros sentimentos e se interessam por aquilo que realmente é importante - a vida.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

(...)
sentado na poltrona
beijas-me a pele morena
fazes aqueles truques
que aprendeste no cinema
mais, peço-te eu
já me sinto a viajar
para, recomeça
faz-me acreditar

não, dizes tu
e o teu olhar mentiu
enrolados pelo chão
num abraco que se viu
é madrugada ou é alucinação
estrelas de mil cores
extasy ou paixão
humm, esse odor
traz tanta saudade
mata-me de amor
ou da-me liberdade
deixa-me voar
cantar, adormecer...

Excerto da letra da canção "tudo o que eu te dou" de Pedro Abrunhosa

quarta-feira, 17 de junho de 2015



Falou comigo noite fora. Desabafou por entre a madrugada e cada lágrima sua foi apagando uma a uma, as estrelas que curiosas teimavam em ouvir a conversa. Matilde, chamemos-lhe assim, está apaixonada. O seu coração bate forte por alguém e mais bateria se pudesse dar livre caminho a esse amor impossível. O amor em si nunca é impossível, qualquer um está sujeito a sentir tamanho sentimento da forma que ele se manifestar. O objecto de desejo desse amor é que pode não ser o mais indicado... e é o caso. Matilde é uma mulher no meio de tantas. Solteira aos 48 anos, ficou sem pai muito cedo. A mãe lá teve de se virar para criar os dois rapazes mais a pequenina, ela, a mais nova. Os irmãos sempre a protegeram demasiado não a deixando viver coisas próprias que devia ter vivido. Sempre viveu com a mãe e fez dos sobrinhos os filhos que nunca teve. Aquela vida caseira, de coser com a mãe, manteve-a verde para os homens que a cobiçaram até uma certa idade e passaram depois a ignorar. Mas chegou o dia da mãe partir e Matilde, como que se libertou. Libertou-se da prisão da vida com a mãe e lançou-se na prisão do primeiro amor que a iludiu. Sim, prisão. Matilde é a segunda escolha de um homem casado e bem posicionado na sociedade. Caiu nos seus braços acidentalmente e desde então que não vê nada mais à frente. Vive para os pequenos encontros furtivos. Prepara-se para o fazer feliz a qualquer hora, estando sempre disponível e espera que ele a queira. E ele não vai. E ele desliga a chamada e fica incontatável. Ela chora. Chora porque não pode ir jantar com ele e mostrar o "seu" homem. Não pode sentar-se numa esplanada com ele a rir enquanto bebem um copo. Não pode contar com o seu abraço quando está em baixo, pois para ele está sempre bem disposta para não desperdiçar o tempo que lhe é concedido com ele. Não põe sequer a hipótese de acabar com este sofrimento. É que quando não sofre, é imensamente feliz porque está com ele ! e pergunto, que amor lhe tem ele ?... que sentimentos movem este homem ? Não acredito que em casa tudo corra bem pois mulher que se preze, coloca a intuição feminina a trabalhar e chega lá num instante... Dará "jeito" ? Poderá a situação financeira familiar sustentar a farsa de uma família feliz ? às vezes reduz-se a vida e os relacionamentos a situações impensáveis. A vida, o amor, a proximidade com alguém tem de ser muito mais do que aparenta ser à partida. Tem de ser algo crescente, límpido, bonito, que nos deixe viver sem culpas. Gosto muito da Matilde, mas vou gostar ainda mais quando ela se conseguir libertar e ser ela própria. Tem de querer. A solução está dentro dela. Tenho fé.



terça-feira, 16 de junho de 2015



A grande caminhada da Vida II

A caminhada é longa e a noite aproxima-se. Alice arrasta os passos. Parece que os pés estão ligados diretamente aos olhos que já só abrem até meio. Estão ambos pesados. O cansaço acumula-se mas Alice acha sempre que tem forças para continuar, para fazer tudo o que esperam de si. Sim, porque ela já não exige nada de si própria, apenas aquilo que os outros esperam para que assim mantenham a ilusão de uma Alice forte e decidida. Como fora outrora. Como fora no tempo da liberdade partilhada, despreocupada, onde a vida decorria na linha do abismo, equilibrando sentimentos que hoje são interditos. E Alice dormia sempre, descansada, serena, tranquila. Depois inventaram o stress e a ansiedade aliados às responsabilidades. 
Vai para casa no caminho que sabe de cor por entre as flores, por onde pode fechar os olhos e ser conduzida pelo aroma das pétalas, na esperança de acordar na manhã seguinte com um beijo suave por entre dois raios de sol.

Enquanto continuarmos a dar bebés e bonecas às meninas para os embalarem, mudarem a fralda, darem o biberão, loiças e tachos e fogões para fingirem que fazem comidinha, aspiradores, tábuas de engomar, maquinas de lavar... Enquanto continuarmos a oferecer carrinhos, escavadoras, bonecos de luta, bolas e legos aos meninos... Enquanto não misturarmos isto tudo... vamos ter sempre mulheres escravas de trabalho doméstico e homens que só sabem trabalhar fora de casa. Como adultos responsáveis devemos fomentar a partilha das tarefas desde cedo pois, como diz o povo "de pequenino é que se torce o pepino".Não, não me venham com mentes retrógradas de que os meninos ficam afeminados de vestir e despir um nenuco ou de distribuir uns pratinhos numa mesinha inventada no chão ! Nem tampouco as meninas ficam másculas por darem uns chutos na bola ou encardirem os joelhos por fazerem corridas com os carrinhos na terra batida atrás do quintal da avó ! Fui muito maria rapaz - ficava pendurada nos muros pelas saias que a minha avó me fazia naquele tempo de pouca fartura. Fiz casinhas para as formigas quando chovia. Dei pontapés na bola até bater no fio de eletricidade na rua e todas as luzes se apagarem, o que provocava o batimento acelerado no coração enquanto fugia a esconder-me. Fui parar ao hospital com uma pedrada no olho pela guerra de pedras entre duas trincheiras. Fui aos pássaros com fisga e espingarda de madeira. E tive para todas essas brincadeiras um amigo que queria brincar com as minhas bonecas. E brincou, e fez comidinhas, e penteados. E corríamos para o campo mal despontavam as azedas e apanhávamos tantas ! Nada disso influenciou a nossa orientação sexual. Somos adultos capazes, responsáveis, pais, trabalhadores. Tivemos uma infância incrível e muito feliz. Não sei se ele partilha as tarefas domésticas com a mulher dele, é provável pois ela tem uma vida super ocupada profissionalmente. O que quero focar, o que quero mesmo dizer é que os homens continuam em grande parte a não verem as mulheres como suas iguais, como seus pares. Continuam a atribuir tarefas exclusivamente às mulheres mesmo dizendo que as amam (?). E o que mais me irrita, é as mulheres terem exatamente a mesma atitude ! Porque tem de ser o homem a mudar a lâmpada da sala ? Porque tem de ser a mulher a limpar a casa de banho ? O sol deixará de brilhar se o homem estender a roupa ? Se mulher lavar o motor do carro induzirá em crime ? Igualdade de géneros - vale a pena pensar nisto...

segunda-feira, 15 de junho de 2015



Há pessoas que têm uma capacidade enorme de disponibilidade para os outros, no entanto esquecem-se de si próprias. Acabam por viver a vida dos outros, o que na maior parte corresponde à parte amarga da vida que o "outro" não consegue enfrentar sozinho e procura assim dividir receios, e muitas vezes procura que decidam por si, entregando tudo nas mãos de quem ouve, de quem está ali para apoiar. Saber dizer "não" é importante. Afinal, é das primeiras palavras que aprendemos a dizer. Não é preciso ser demasiado direto, não é preciso dizê-lo com agressividade, mas é preciso demonstrá-lo. O respeito está na base das relações humanas. Não há amizade sem respeito. Fico mais feliz quando dou, mas sabe-me bem receber. Estas pessoas disponíveis para os outros são normalmente pessoas alegres, positivas, que sabem dar um abraço na altura certa, são pessoas que atendem o telefone fora de horas porque pode ser alguém a precisar de ajuda, são pessoas que as crianças adoram, são pessoas que compreendem os outros mas que geralmente quando precisam de desabafar com alguém, não encontram ombro disponível... todos acham que essa pessoa não tem problemas - anda sempre bem disposta. E pensam que lhes podem dizer tudo, e dizem. Esquecem-se que essa pessoa tem sentimentos, tem um passado, tem tudo como os outros. E tem muito mais que os outros: consegue dar a volta à situação e voltar a reerguer-se ! S O Z I N H O ! Simplesmente porque esse é o estado em que se encontra a maior parte das vezes...

domingo, 14 de junho de 2015


Somos sempre o que sempre fomos.
Adaptamo-nos às curvas da estrada, balançando mais para um lado ou para o outro, saltando com algum buraco no caminho mas somos sempre o que sempre fomos.
Tivemos amigos, temos amigos mas os que outrora tivemos mais chegados são como os que temos hoje chegados a nós. Continuamos iguais. A mudança não acontece, apenas evoluímos. Não se verifica alteração da matéria em si, não mudamos.
Tive amores diferentes mas continuo a procurar o mesmo, o que não encontrei ainda. Não mudei, continuo a ser o que fui. Sempre. Só quem bem me conhece, quem me acompanha desde cedo, compreende o que aqui afirmo. Só esses poucos aceitam e compreendem a minha gargalhada próxima da lágrima sentida, a alegria para os demais quando o coração está apertado, a palavra em demasia seguida de dias de silêncio e afastamento, o empenho extremo num qualquer projeto individual deixando todo o restante para trás, o gosto pela música clássica harmoniosa versus hard rock ou heavy metal bem alto a conduzir numa noite de verão para largar o stress, ou alguma emoção menos bem resolvida... o amor pela minha serra, o abrir os braços para sentir o vento passar, o abraçar a minha cadela e falar com ela olhos nos olhos sem pronunciar qualquer som e ficarmos depois ali no chão juntas, a olhar as estrelas. Ai se eu pudesse, se eu tivesse como... Sonhadora, amante da vida. Continuo a ser sempre o que sempre fui. E serei.


I'm just a dreamer... (to listen)

sexta-feira, 12 de junho de 2015

No alto
sem ser no cimo
vais sentar-te
cansado
vencido
fraco
Abaixo da névoa
está quem deixaste
choram inconsoláveis
recusam-se a aceitar o que estava escrito
continuam sem perceber
continuam sem tudo saber
e assim continuará
Acima da névoa está a Luz
consegues vê-la ?
levanta-te e segue-A
é a tua oportunidade de seres feliz
liberta-te
e repousa em paz no Infinito...


Por mais que estudemos a mente humana, há coisas que nos hão de passar sempre ao lado. Não sou psicóloga mas interesso-me sobretudo por comportamentos, condutas, ou seja mais para o ramo da etologia. As crianças são muito mais inteligentes do que a maioria dos adultos pensa. Para além de estarem atentas mesmo quando achamos que estão "no mundo da lua" e captarem tudo, têm uma memória de elefante. E como se não bastasse, conseguem transpor situações passadas para o futuro, fazendo como que uma previsão do que poderá acontecer. E são assertivas. Quando dizem "não" é porque não querem dizer "sim", e mantêm a sua decisão sempre igual, são honestas até serem corrompidas por um adulto com algum tipo de chantagem... Mas tal como outros indivíduos de outras espécies, as crianças não são todas iguais nem na maneira de pensar nem nos seus comportamentos. E obviamente que um mesmo estímulo poderá ter reações diferentes como resposta, dependendo de imensos fatores, sejam eles o meio ambiente, o meio em que se desenvolve a criança (família, escola, vizinhança, etc), o agregado familiar, profissões dos pais, locais que frequenta, com quem brinca e com o quê, acesso a meios de entretenimento, a cultura, a desporto, etc. E no meio disso tudo, será uma sorte encontrar as pessoas certas para a ajudar a crescer. Porque mesmo que se seja pai ou mãe e se queira bem a um filho, não é o bastante. Porque mesmo que se seja senhora professora, pode não se estar vocacionada para a pedagogia. Porque mesmo que se tenha poder económico, pode não se ter o mais importante de tudo - amor, compreensão. Saber colocar-se ao nível de uma criança não é para todos. E não me venham falar à bebé, as crianças precisam de ouvir desde o berço a correta pronuncia das palavras para estimular a fala. É necessário elogiá-las quando estão corretas ou deram o melhor de si. É necessário por vezes fechar os olhos a algo menos bem feito. É sobretudo necessário ouvi-las, dar-lhes a palavra e estar disponível para ouvir como adulto o que têm para dizer. Confiam em nós até descobrirem uma mentira. São puras, são verdadeiras. Bons ou menos bons, somos os seus modelos. Têm uma percepção incrível para nos lerem os gestos e o olhar. Têm capacidades que lamentavelmente se perdem no estado adulto e que por isso não são detetáveis pela maioria dos adultos que demasiado ocupados com futilidades, consideram as crianças seres incapazes para debater certos assuntos. Enganam-se. Deixemos-las expressar a sua criatividade em qualquer arte e aprendamos a interpretar as suas obras ! Seja música, dança, artes plásticas, teatro... deixemos que soltem o que não conseguem dizer. Permitamos que consigam prender-nos a atenção de outra forma ! Têm tanto para nos dar e temos tanto para aprender com elas !



E depois, há o conceito que formam de nós, consoante as nossas atitudes. É preciso ser cuidadoso se não, poderemos perdê-los para sempre mesmo que permaneçam ao nosso lado.

quinta-feira, 11 de junho de 2015


Anda
Arrisca
Estás à espera de quê
Lança-te no voo que te faz feliz
Deixa por momentos esse peso
Enche o peito de ar
Impulsiona o corpo
Bate a asa
Deixa para trás tudo o mais
e voa...
Faz-te leve
Fecha os olhos
Sente a brisa
Deixa-te levar por mim
Vou contigo
Voo contigo
Deixa que desenhe o caminho
Voemos juntos
Alivia a culpa
Sê feliz por instantes

terça-feira, 9 de junho de 2015


Temos de os empurrar do ninho por muito que custe. Se não derem uso às asas, nunca saberão sequer planar contra o vento. E entorpecem os músculos. Há que aprender a voar para saber voltar ao ninho a qualquer hora. Foi lá que tudo começou.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

A grande caminhada da Vida

Alice, mais uma vez, sente que na sua caminhada tem de parar um pouco para descansar e refletir. Dá mais uns passos, ainda que vagarosamente, para logo se sentar um pouco naquele banco de luz. Senta-se e sente-se encantada. Deixam-na ficar só por instantes para que se abstraia da vida presente. Ao seu lado encontra um livro. Abre a capa florida e apercebe-se que é o livro do seu passado, o livro da sua vida. Alice consegue ler um período de 5 anos em que já era adulta. Lê e revê alguns dos momentos. Alguns apenas, pois muitos deles, até lhe custa a crer que foram de facto vividos por si, mas identificou referências importantes que provaram a sua envolvência. Riu com algumas coisas, emocionou-se com outras, compreendeu outras que na altura questionava. Mas sobretudo percebeu que morremos como nascemos. Nascemos com aptidões que desenvolveremos ao longo da vida ou não, está nas nossas mãos. Se nasces  empreendedor, assim serás pela vida fora. Se nasceres preguiçoso nada te fará alterar. Se o amor for o teu caminho, serás amado e saberás amar. Não adianta esperar que alguém se altere à imagem daquilo que pensas que a pessoa poderá ser um dia. Ou é desde o nascimento, ou não será nunca. Alice compreendeu os erros que cometeu. Sempre os mesmos erros com pessoas diferentes. Sempre os mesmos erros porque Alice é sempre a mesma e espera o mesmo de pessoas diferentes. Alice percebe agora que não tem de esperar absolutamente nada de ninguém. Não adianta esperar nem procurar. Alice é um peça de um puzzle incompleta de um único lado. Só uma outra peça encaixará em si. Com as mesmas cores. Dando continuidade à grande obra que será o puzzle de um conjunto de pessoas entre familiares e amigos e outras pessoas que se cruzam na sua vida. Alice respira fundo, fecha o livro e pousa-o cuidadosamente nas mãos de um anjo que entretanto se sentara ao seu lado, colocando uma asa à sua volta, aconchegando o seu coração. “Vai confiante” – disse ele. E Alice partiu, continuando a sua caminhada de cabeça erguida.

domingo, 7 de junho de 2015

No tempo que passa por mim
Passo o tempo sem ti
Sem ti passa o tempo bem devagar
No calor destes dias
procuro algures o teu olhar
desencontros sem retorno
fujo para o mar
E na areia escrevo
vezes sem conta o teu nome
para logo de seguida a água o apagar

sábado, 6 de junho de 2015


Aceitar a diferença enriquece-nos. Se pensa, ou é diferente de mim é porque teve outras hipóteses que eu não tive, ou não detetei. É comum achar que se é diferente não está correto, pois ao classificar como diferente é porque não é semelhante a mim, de acordo como que eu acho correto. Talvez seja eu que seja diferente. Mas lá porque pensamos de maneira diferente, não quer dizer que estejamos um contra o outro. Respeitar a diferença, tolerar a escolha, aceitar outra opinião, mais não é que amar o próximo. É da união das muitas diferenças que se faz o "todo". Ver a diferença como uma complementaridade é fundamental para acabar com mentes fechadas e retrógradas. Somos todos diferentes, somos todos humanos. Não nos deixemos limitar pois é a diferença que torna o mundo mais bonito e interessante.


quinta-feira, 4 de junho de 2015


Gosto de por aqui passar pela manhã. Toda a sabedoria do rio aliada às suas verdes margens transmite-me tranquilidade. As perguntas que faço no meu pensamento, normalmente têm resposta dada por estas paisagens que bem me conhecem.




Mas as de hoje... ficaram suspensas. A maré está baixa, foi dar resposta noutro lugar. Espero a maré cheia.

terça-feira, 2 de junho de 2015



É assim. E contra factos não há argumentos. Se aqui estivesses a falar comigo, enumerarias uma lista de argumentos para ires contra o que afirmo. E não seria só "porque sim". Seria porque está em ti veres as coisas sob várias perspetivas. Porque gostas de te colocares no verso, e descobrires o inverso colocando-o frente a um espelho. É a tua natureza, aliada a uma curiosidade esquemática complexa que no fundo traduz tudo num simples olhar sem de palavras necessitar. Estejas longe, estejas perto, estás por aí algures a indagar algo. Mesmo no silêncio que procuras é-te difícil sossegar. Eu sei. Não preciso de respostas. Aceito. 
Inspiras-me por vezes. Fazes-me bem. Tocaste-me a alma.
(Estás aí ?)

segunda-feira, 1 de junho de 2015



Já é dia. Levanta-te, abre a janela  cumprimenta o sol. Abre bem os olhos, não o fazes porquê ? há muita claridade, não dormiste tudo ? porquê ? pronto deitaste-te tarde... saíste ou ficaste a ver tv ? nada disso ? hummm (...) adormeceste no sofá ? ah ah ah cansaço de quê se não fazes nada ? Se não dormiste mais de manhã foi porque não quiseste, foi domingo ! dormes mal... deves ter muitas preocupações, deves. Dores no corpo ? estás velha !!! Chegas sempre atrasada ! (se chegas a horas ninguém repara) não tens relógio ??! Tens de te mexer mais, estás a ficar gorda. Compraste outros sapatos ? estás cheia de dinheiro ! Saíste cedo hoje... Estás mal disposta ? ninguém te fez mal ! Ri ! Sorri para toda a gente ! Não interessa se estás bem ou não, tens é de fazer com que os outros estejam bem ! Tens todas as razões do mundo para sorrires ! Se tiveres chateada, engole o sapo e não digas nada para não incomodar. Se implicam contigo nada melhor que oferecer um sorriso lindo porque realmente estás com vontade é de abraçares essa pessoa. Se te mandam à fava, vai - mas com um sorriso nos lábios ! e se te apetecer chorar, ri, sorri, dá gargalhadas altas até poderes dizer que estás a chorar de tanto riso ! Sê cínica e falsa. Se alguém te perguntar (por conversa, por hábito...) se estás bem, diz sempre que sim não vá a pessoa poder ficar preocupada contigo. Finge. Finge todos os dias. E não te esqueças. Sorri.
(Bah !)