quarta-feira, 13 de maio de 2015


Tantas vezes mal interpretado por desconhecimento da sua grandiosidade, o silêncio é de ouro e cada vez mais valorizado. Se para quem trabalha no centro de ruído ele é necessariamente urgente, não o é menos para quem esgota o pensamento diariamente com cálculos, ocupações desgastantes, ou outras preocupações inevitáveis. De notar que o que é ruído para uns pode não ser para outros. A avó que enche a casa de netos de diversas idades mais os amigos que por arrasto se sentam à mesa e conversam entre gritinhos e risos, ganha vida participando nas alegrias desses jovens (como gostava de vir a ser assim comigo um dia...) e o que para ela é entusiasmo e vida, para outros é o ultrapassar o limite de decibéis permitidos pelo tímpano sensível. Mas o silêncio assume muitas facetas, muitos estados de espírito, diria mesmo que guarda muitas palavras em si mesmo, palavras essas que na maioria das vezes fluem de uma forma tão intensa que a desordem é tamanha e o silêncio é a única esperança para que se consiga ordenar o pensamento e as ideias. O silêncio proporciona o encontro connosco, com o nosso "eu", com o "consciente" na procura do "inconsciente", estimula a concentração e a reflexão, ajuda ao (auto) conhecimento. O silêncio ensina a escutar as histórias contadas pelos gestos corporais, pelo olhar que diz mais que a boca, pelo toque sentido de dois corpos, distingue o respirar aflitivo do respirar suspenso apaixonado. O silêncio não é a ausência de som. É apenas o som surdo, que não se faz ouvir mas faz-se entender. Por isso mesmo, o silêncio também pode ser uma resposta embora nem sempre a melhor. Pode de facto contribuir para a resposta mas a comunicação pode ter interferências e gerar mal entendidos. Diálogo é a solução, mesmo que em silêncio. Como disse Leonardo Da Vinci, "as mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar"...

Afirmação

A essência das coisas é senti-las 
tão densas e tão claras, 
que não possam conter-se por completo 
nas palavras. 

A essência das coisas é nutri-las 
tão de alegria e mágoa, 
que o silêncio se ajuste à sua forma 
sem mais nada. 

Glória de Sant'Anna, in 'Um Denso Azul Silêncio' 

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