Temos amigos e conhecidos.
Invariavelmente confundimos os dois grupos. Há conhecidos que ao fim algum tempo se tornam amigos. Há amigos, que nunca o foram, embora pensássemos que sim. Há amigos que sempre o foram e saberemos que hão de ser sempre. São poucos e ainda bem. Qualquer peça rara tem muito mais valor precisamente por isso. Por ser rara. Os amigos dos amigos quase nunca o são para nós. Fazem o jeito. Há um acréscimo, um aumento da linha elástica da amizade que quando se solta… ui ! bate com força ! e depois há um espaço de tempo que tentamos intercalar entre uma situação de amizade dúbia na juventude e a situação de hipotética amizade madura na meia idade (eu disse meia idade ?!) e finalmente obtém-se a certeza de que eras jovem mas não eras estupida. Por alguma razão não permaneceram certas “amizades”. Os amigos de infância permanecem para sempre nas nossas vidas. Aquele desenvolvimento partilhado nas aulas e recreios da escola primária, as festas de aniversário em que todos comiam bolo de aniversário nem que fosse por respeito (ou porque o bolo era feito pela mãe ou avó do aniversariante e não de compra como hoje acontece na maior parte das vezes), as bicicletas emprestadas porque nem todos tinham… há um conjunto de valores que permanecem em nós e nos aproxima mesmo que por muito distantes. Depois há outros amigos que se revelam em situações especialmente marcantes e que vão ficando no nosso círculo de contatos. Talvez os vejamos esporadicamente mas se nos sentarmos a beber um café esquecemos o tempo e as palavras multiplicam-se até mais não. É como se não houvesse tempo perdido entre dois encontros. E há os amigos recentes. E nos amigos recentes as coisas acontecem de forma diferente. É engraçado porque parece-me omitir-se algo propositadamente para não perder o tempo que afinal até já passou e se passou, acabou, não interfere. Mas contribui para o agora. Há uma urgência comum em querer viver o momento. E esse tempo passado não é mais que um tempo absolutamente comum mas cronologicamente desencontrado. E que se reflete no presente. São esses pequenos pontos comuns que estabelecem o rumo das pessoas que acabam por se encontrar (aparentemente) por acaso e parecer que até já se conhecem…
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