quarta-feira, 4 de março de 2015



A aparência supostamente perfeita de alguém,
na opinião de muitos, sem nada a apontar,
 lembra-me uma casa acabada de arrumar
 onde parece não morar ninguém.

Há uns tempos atrás fui a uma formação em que a formadora estava impecavelmente vestida, penteada, maquilhada, calçada, até a esferográfica que usava brilhava entre as unhas de vermelho pintadas. Falava fluentemente e estava à vontade entre os formandos marcando desde logo o seu território. Eu não me estava a sentir inserida por várias razões e tinha de ultrapassar isso para melhor passar esses três dias. Estudei-lhe os movimentos e achei que havia ali qualquer coisa que não correspondia ao que estava à vista. Tomámos um café e falando de mulheres e do seu poder, das possibilidades de ascensão na carreira, etc, disse-lhe diretamente que achava que aquilo era só montra e acreditava que assim que abria a porta de casa mandava os sapatos de salto agulha pelo ar. Largou uma gargalhada e confessou-me que até o cabelo super liso que eu via era na realidade muito encaracolado e de outra cor. Mas que esta foi a imagem que construiu para se impor num mundo maioritariamente de homens, onde pelo facto de ser mulher era preterida. Ficámos amigas.
A verdadeira mulher estava camuflada. Gosta da sua profissão. Mas é quando despe a capa que o verdadeiro “eu” se mostra.

Ao mesmo tempo que acho triste, acho graça. Imagino mulheres cheias de artimanhas, artilhadas com chumaços, soutiens almofadados, jeans up, collants ventre liso, etc, extremamente bem maquilhadas, pestanas postiças e afins, que no derradeiro momento do romance em que se despem as roupas e a entrega física acontece, a força da gravidade manifesta-se inevitavelmente e tudo cai ! Oopsss…

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, tem de haver um meio termo (ou não). Não conheço ninguém que tenha nascido vestido !! Nascemos nus. E somos maravilhosos. E ninguém é perfeito. Algures em certa tribo procura-se sinais, marcas de qualquer tipo no corpo para provar que é humano, quem não tiver é considerado divino.

Haveria muito mais para dizer, explorando outros campos relacionados com aparências. E temos de lidar todos os dias com melhores ou piores, uns por umas razões outros por outras. A própria sociedade vive de aparências...

Sabem o que gosto mesmo ? de chegar a casa e continuar a ver a casa meio desarrumada a começar pelo tapete da sala que atualmente é cama de nenucos :)

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