MULHERES DA MINHA VIDA (II)
Sempre foi a matriarca da família. Podia ser sua filha pois
quando nasci ela tinha 41 anos. Sou sua neta com muito orgulho. Sempre teve
regaço para acolher almas puras. Crianças, portanto. O seu amor pelas crianças
espalhava-se até ao fim da rua e até o mais envergonhado vinha dar um beijinho
e levava um abraço cheio de sentimento, na certeza que poderia voltar a buscar
mais. A minha infância foi cantada pela sua voz que trinava à moda antiga “Cantigas
da Rua” ou “oh tempo volta para trás” entre outras. Guardo o cheiro das flores
do quintal (as ervilhas de cheiro…) e o cheiro de roupa engomada nas manhãs de
inverno em que acordava na sua (nossa, de todos) casa. Os lanches de fatias
douradas com a cafeteira a deixar assentar o café… Hummm ! A capoeira onde me
misturava com os coelhos, galinhas … (chegámos a ter patos). Vivências únicas
naquelas manhãs em que cedo partíamos de mão dada para ir ao rabisco de figos,
uvas, nozes, pinhas, marmelos … ou antes disso, aos caracóis para animar as
noites de bailes nos santos populares. Mostrou-me ninhos de melros, lagartas,
lagartixas… Um dia matou uma cobra que surgiu à minha frente quando íamos apanhar
trufas. Mulher destemida, trepava árvores como ninguém mais que eu conhecesse.
Mesmo cheia de dores, nunca desistiu. Ensinou-me muito mesmo sem saber ler.
Éramos a companhia uma da outra. Fomos durante 9 anos. Depois a família aumentou
e mais crianças o seu colo acolheu. A mesa sempre deu para todos. Todos tivemos
o seu amor de igual maneira. Sempre acompanhou a evolução dos tempos e aceitou
as inevitáveis mudanças. Soube ouvir e compreender cada membro da família sem
críticas. Sempre abordou qualquer tema sem preconceitos. Graças a Deus ainda
temos o benefício do seu abraço, do seu sorriso e desfrutamos deles com muito
amor, como sempre nos ensinou. Minha avó materna.
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