MULHERES DA MINHA VIDA (I)
Às vezes (só às vezes para não
cansar) questiono-me sobre o que sou e porque sou assim. Melhor dizendo, a mulher que sou e que
influências de outras mulheres contribuíram para ser esta mulher. E distinguir
quais foram essas mulheres e o que aprendi com elas. Foram/são especiais.
A primeira de todas ainda hoje é
fundamental na minha vida. Quanto maior o seu frágil coração fica, mais
pequenina a sua estatura. Dá-se invariavelmente a quem nada pede. E com todas
as suas limitações físicas, esquece-se de si para chegar a quem precisa. E quando
volta está cansada mas com um semblante feliz. E fala com a voz embargada
evitando uma ou outra lágrima porque lhe faz confusão a solidão em que os
outros possam estar. E esquece-se de si. Foi aos poucos libertando tempo para
Deus e hoje está mais próxima Dele. E em pequenos gestos seus nota-se a Sua
presença.
É uma lutadora. De tanto agarrada
à vida, tem vivido em função da morte que a espreita em cada esquina. E isso inevitavelmente,
condicionou-a e continua a manifestar-se de diversas formas. Prepara o caminho
da vida como se pudesse partir a qualquer momento. Mas não o faz a pensar em
si, mas sim nos outros. Desde pequena me preparou para a emancipação, para a
independência a todos os níveis. Se o sou hoje, é a ela que o devo
essencialmente. Esse amor distante em que insiste e parece frio, é mais
poderoso que a força de um vulcão quando explode, é um amor contido, desligado
para que se sofra menos na sua ausência. Pensa ela. Ou quer fazer crer. Trata a
morte por tu. Para quê ? pergunto eu, ela é inevitável, é a certeza mais certa
que todos teremos. Faz-se forte e ignora fragilidades diariamente. E fala muito
quando se sente ouvida. Acho que a conheço melhor que ninguém. E ela a mim.
Detetamos sentimentos por sinais e atitudes uma da outra, por silêncios, por
sorrisos trémulos, por alegrias desmedidas. Somos o equilíbrio uma da outra.
Ela dá-me força, coragem, para ir até onde ela não conseguiu chegar e fica
orgulhosa quando lá chego ou ultrapasso essa meta. Ensinou-me a ser livre.
Continua a apoiar-me em todas as decisões independentemente de estar de acordo
ou não. Ensinou-me a importância de andar de cabeça erguida, de ser digna, de
me dar ao respeito e respeitar os outros. De entender a diversidade humana. De
assumir o erro. Da importância da justiça e da verdade acima de tudo. A ter os
pés assentes no chão e não dar o passo maior que a perna, a ser consciente. Ensinou-me
tanto, muito mais do que fui capaz de dizer… e todos os dias aprendo mais com
ela. Minha Mãe.
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