sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Depois de uma noite de lua cheia em céu estrelado, o dia amanheceu sem sol. Fresco, de intensa humidade, enublado, digamos que o dia convida à reflexão, à introspeção, a fazer um balanço, como se o nosso planeta regente estivesse em movimento retrógrado (por acaso o meu só estará entre 30/ago e 22/Set).
Os últimos dois dias foram dias de escutar os outros. E também eu falei de coisas minhas. Mas quando penso no que escutei, delego as "minhas coisas" para segundo plano. Liguei para quem gosto noutro dia e escutei um desabafo enorme. No fim só pude dizer, "porque guardaste tudo isso e não me ligaste se precisavas que te ouvisse ?" Mas eu liguei e sinto-me feliz de o ter feito, talvez o devesse ter feito mais cedo. Ontem, a meio do dia, passei por um quiosque para comprar um gelado e a empregada estava verdadeiramente nervosa, ansiosa, ao ponto dos olhos estarem cheios de lágrimas e em cada gesto as mãos tremiam-lhe. Não foi difícil que comecasse a falar. A nora, grávida de 40 semanas e 4 dias, sem quaisquer contrações, está internada num hospital noutro país e ela queria estar lá a dar carinho e esperança. E queria também perceber porque ainda não tinham feito uma cesariana à rapariga... Hoje passei por lá logo de manhã e a senhora estava de folga. Acreditam que o patrão não soube dizer-me nada ??! Que falta de interesse ! Que apoio, que suporte emocional terá a senhora no local de trabalho ?...
Adiante.
Ontem ao sair do meu emprego, dirigi-me a uma loja onde tinha de ir buscar uma peça de um eletrodoméstico previamente encomendada. Foi curioso pois que já me tinha lembrado de ir lá mas como ontem tive parqueamento mesmo à porta, foi ontem que fui lá. Surpresa: a dita peça só chegou ontem ! Conversa puxa conversa, alguém ao telefone estava a recuperar de um internamento, blá blá blá... acabei por ficar até a loja fechar as portas e ficarmos lá dentro as duas. Falou-me dos pais, de como viveram, da alegria e hábitos de cada um, dos seus gostos pessoais, da bondade e generosidade da mãe, da degradação que a mãe sofreu até ao fim, das suas mortes, das consequências emocionais que sofreu por isso acontecer... Saí de lá feliz por ter dado o meu tempo e o meu carinho a quem precisava naqueles momentos.
Não custa nada, não custou nada.
Precisamos uns dos outros. Todos precisamos de colo de vez em quando. Ninguém é mais que alguém. Quem diz que não precisa de ninguém, mente, e talvez precise mais do que quem admite. Sózinhos... somos nada.




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