quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Sonhos...

Era sempre uma correria.
Ele apanhava o comboio da linha de Sintra e chegava quase em cima da hora de marcar o cartão. Ela entrava num autocarro na margem sul para depois mudar para o metro e chegava bem mais cedo. Dava-lhe tempo de ir à cabeleireira quando chegava antes das 8, ou de beber um café para percorrer as montras com o olhar antes de entrar no edifício.
A meio da manhã, trocavam uns beijos fugazes no elevador entre as entradas de colegas em cada andar, para seguirem para um break. Todos já desconfiavam que ali havia coisa, os olhares brilhantes que trocavam iluminavam cada sorriso envergonhado que disfarçavam com palavras curtas.
Depois, era passar o resto da manhã a desejar a hora de almoço. Hora de almoço... nem almoçavam na maior parte das vezes ! A paixão dominava os dois de uma forma que alimentava todo o corpo. Sem quererem dar nas vistas, o primeiro que saísse esperava na plataforma do metro. E lá iam os dois até ao jardim do Campo Grande quase todos os dias, trocar beijos e abraços, palavras de amor... Não havia fome, não havia frio, não havia nada que interferisse naquele tempo. Muitas vezes de cara colada a olhar os patos que deslizavam no lago, o silêncio tomava conta do momento enquanto os perfumes dos dois se misturavam pelo calor emanado dos corpos. "Que horas são ?" E abotoava-se o botão atrevido, vestiam-se os casacos e corriam de novo para chegar a horas. Ofegantes, corados, de sorrisos rasgados entravam e proferiam o "boa tarde".
A tarde decorria idêntica à manhã. Nem sempre havia a despedida para o dia seguinte porque tudo isto seria contínuo, sem fim. Seria um sonho, com uma casa perto da praia e uma família numerosa que se juntaria aos fins de semana e férias com os atritos familiares habituais.
Seria. Mas como em qualquer sonho há sempre o momento em que se acorda.



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