terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A importância de um abraço

Resultado de imagem para gorilas abraçadosRute fora criada pela avó materna. A mãe Lena sempre lutara pela vida, pela posição ascendente na carreira profissional como mulher, enaltecendo a independência feminina. Preferia amealhar, gastando apenas o necessário para as necessidades básicas. Todos os anos faziam férias mas sem luxos. O orgulho em não precisar de ajudas externas era mais que muito e fez questão de passar isso a Rute. No entanto, Rute era diferente da mãe. Conseguiu uma forma de sustento própria sem nunca abdicar dos seus desejos, dos seus sonhos. A importância da felicidade incutida pela avó assente nos prazeres da Natureza, superou a necessidade de um pé de meia sustentável. Rute vivia os dias de forma intensa sem se preocupar com o dia seguinte. Talvez também porque no fundo sabia que mãe Lena tinha uma boa almofada financeira que daria para muita coisa. Assim não se preocupava com necessidades da mãe. Quanto a si, o caminho a fazer seria descoberto dia a dia e logo se veria o que fazer. A forma leviana como vivia o amor era condenado pela mãe e motivo de orgulho pela avó. Para Lena não tinha sido fácil acompanhar o desenvolvimento da filha, chocando-se constantemente com as suas atitudes que ultrapassavam os limites do rumo previamente traçado por si. Rute era rebelde e teimosa. Mas sempre assumira os erros das suas escolhas, fazendo dos "fins" novos começos. Chegada a idade avançada, mãe e filha revelavam-se cada vez mais afastadas contrariamente ao que seria de esperar entre duas mulheres inteligentes. Mas cada uma admirava a outra. De vivências tão diferentes, percursos em nada similares, amavam-se mutuamente como poucas mães e filhas, só que tanto amor não permitia que cada uma mostrasse as suas preocupações e fraquezas à outra. E nem se sabiam abraçar demoradamente... É que um abraço faz falta e se for demorado ainda mais efeito provoca. Um abraço demorado, obriga a demorarmos-nos na pessoa abraçada, são dois corações a bater próximos um do outro, a trocarem batidas entre si, como quem troca pedaços de vida. Rute atormentava-se com isto e procurava colmatar esta falta de proximidade com a mãe. Às vezes levava um pequeno presente à mãe sem motivo aparente e dizia-lhe que era um miminho - lá ganhava um abracinho. No dia seguinte a mãe retribuía com outro presente e Rute sorria entristecida porque a mãe não percebera a intenção. E Rute foi aceitando esse passar de sentimentos reais mas escondidos para si, convencendo-se que quando a mãe Lena abraçava os netos estaria a abraçar uma extensão de si. E deu folga ao seu coração estalado, acreditando no renovar da Primavera que se anunciava suavemente pelo chilrear nas manhãs frescas.

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