Não sei se me vês
se me ouves
se me lês
algo em ti me recorda uma vida que não tive
a tua meiga voz chama a minha atenção
surpreendes pela delicadeza
pelo olhar puro e expressivo
a facilidade com que coras
apenas em sonhos isso existiu, noutro tempo
belisco-me,
não - és real !
E fujo. Não é o momento.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Foi ao ler hoje no Portal Raizes a frase "Seja um desequilibrado, só os desequilibrados veem algum deus dançante em si! " que durante uns minutos a minha memória quis justificar essa afirmação.
Durante a nossa caminhada de vida, é comum procuramos atingir o equilíbrio, esse ponto delicado que tantas vezes nos empurra para cairmos e começarmos tudo de novo, voltando a visar atingi-lo."Não bebas muito", "Não vás depressa", "Não comas tanto" mas também "devagar empatas", "come mais um pouco", "nem tanto ao mar nem tanto à terra"... enfim, tudo expressões que nos educam para o meio termo seja do que for que tenhamos para pôr em prática. Como se a vida fosse morna ! Os melhores e piores momentos de que tenho memória foram guardados em mim precisamente por excesso ou défice de determinada ação. Como por exemplo quando ia em excesso de velocidade e virei o automóvel ! Ou quando saí do meu estado aparentemente calmo e enfrentei o professor de natação e nunca mais lá fui ! Ou quando a máquina de controle da tensão arterial começou a apitar naquela manhã do dia em que me tornei mãe... E daquela vez que me rebocaram o carro por estar mal estacionado. E aquele ano em que fui de férias sem destino, acampando por aí... E o amor ? Ou se ama intensamente ou não se ama ! Aqueles amores morninhos, em que nada acontece, tudo permanece - bah! Estamos vivos ou não estamos vivos ? Os melhores momentos são aqueles em que damos tudo de nós, em que aproveitamos tudo dos outros, são aqueles em que balançamos entre o mais e o menos saindo do equilíbrio esperado, são aqueles que nos permitem sonhar e acreditar ! Vamos investir no "mais": mais amor, mais compreensão, mais aventura, mais gozo, mais risada, mais criatividade, mais vida !
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
Diz-me baixinho (ou apenas em pensamento)
consegues sentir saudade
saberás quantas vezes o meu sonho atravessa o teu sono
ouves o sussurro da minha voz quando num suspiro digo o teu nome
ainda reconheces no teu corpo o efeito do meu
basta-me pensar
de súbito um arrepio passa deixando alerta cada poro
pára o ar em mim, pára tudo !
e logo vem a razão sossegar o desejo
abafando a tentação para poder construir o futuro
a negação forçada impede o abrir de asas
a dualidade empata na mente
recordação lado a lado com um sorriso
de mãos dadas com o impossível...
e a vida segue, como deve.
consegues sentir saudade
saberás quantas vezes o meu sonho atravessa o teu sono
ouves o sussurro da minha voz quando num suspiro digo o teu nome
ainda reconheces no teu corpo o efeito do meu
basta-me pensar
de súbito um arrepio passa deixando alerta cada poro
pára o ar em mim, pára tudo !
e logo vem a razão sossegar o desejo
abafando a tentação para poder construir o futuro
a negação forçada impede o abrir de asas
a dualidade empata na mente
recordação lado a lado com um sorriso
de mãos dadas com o impossível...
e a vida segue, como deve.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
Gosto de ser mãe. Ser uma mãe completa. Daquelas que trabalha, luta, alimenta, defende, elogia, aponta o erro, tolera, cria, brinca, conversa, escuta, apoia sempre, ensina, cozinha, passeia, anda de bicicleta... uma mãe que ama muito a vida porque tem bençãos que são filhos e filhos são amor constante. Uma mãe que transborda sentimentos pelos olhos porque o coração está cheio de sorrisos dos filhos. Super-mãe ? Não. Sou apenas mãe, com muito orgulho e vaidade. E isso dá-me paz.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
S. Valentim
No próximo domingo, assinala-se em Portugal o dia dos Namorados ou dia de S.Valentim. O que a maioria não deve saber, é que S.Valentim morreu precisamente no dia 14 de Fevereiro ! Um bocado mórbido, no mínimo. Mas Valentim era um defensor do amor e das demonstrações do mesmo, celebrando casamentos contra a vontade do imperador, o que lhe valeu a condenação à morte. A mesma data (14 de Fevereiro) marca a véspera de Lupercais, festa anual em honra de Juno e Pan, da qual fazia parte um ritual da fertilidade com práticas um pouco violentas na minha ótica.
Mas se a data tem um significado que justifique de alguma forma a sua comemoração, actualmente tornou-se num dia de práticas comerciais altamente consumistas que poderão correr o risco de retirar toda a magia ao romantismo puro. O amor verdadeiro basta-se a si próprio, não precisa de apetrechos dispendiosos que o enfeitem. Claro que sabe bem receber e oferecer presentes mas não se deve fazer disso a base da celebração do amor por outra pessoa. E muito mais teria a dizer sobre este assunto pois sou um bocado "bicho do mato" neste contexto - prefiro uma margarida colhida espontaneamente no campo e oferecida num dia qualquer do ano sem significado do que algo comprado nesse dia para ser oferecido quase por obrigação e onde a falta de originalidade é patente em quase todos os presentes à venda...
Depois há os que não têm par nesse dia e são bombardeados por todo o lado onde passam com corações em forma de balão, bombons, bolos, lingerie cuidadosamente enrolada em forma de rosa, arranjos de flores em cestas com coraçõezinhos por todo o lado, jantares a dois, estadias para dois em ambiente romântico com jantar e spa,...
Meus amores, nesse dia os avós que queiram comemorar terão de passar esse assunto para outro dia para aturarem os netinhos enquanto os papás vão ali gastar o que não têm, esquecendo que os velhotes também têm direito à vida e que se calhar só aproveitam em dias de comemorações !...
Quem quiser ir jantar com um amigo, esqueça ! - os restaurantes têm as mesas postas para dois, com velinhas, etc !
Para quem está apaixonado e quer comemorar o que sente, não partilhe com terceiros, viva o amor com quem ama e sinta esse sentimento único e mágico entre duas pessoas.
Quem por qualquer motivo não tem parceiro, comemore o amor próprio e a liberdade, comemore a felicidade da pessoa que é e orgulhe-se disso.
Na verdade, com ou sem dinheiro, com companhia ou sozinho, o que interessa é comemorar a vida !
terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
A importância de um abraço
Rute fora criada pela avó materna. A mãe Lena sempre lutara pela vida, pela posição ascendente na carreira profissional como mulher, enaltecendo a independência feminina. Preferia amealhar, gastando apenas o necessário para as necessidades básicas. Todos os anos faziam férias mas sem luxos. O orgulho em não precisar de ajudas externas era mais que muito e fez questão de passar isso a Rute. No entanto, Rute era diferente da mãe. Conseguiu uma forma de sustento própria sem nunca abdicar dos seus desejos, dos seus sonhos. A importância da felicidade incutida pela avó assente nos prazeres da Natureza, superou a necessidade de um pé de meia sustentável. Rute vivia os dias de forma intensa sem se preocupar com o dia seguinte. Talvez também porque no fundo sabia que mãe Lena tinha uma boa almofada financeira que daria para muita coisa. Assim não se preocupava com necessidades da mãe. Quanto a si, o caminho a fazer seria descoberto dia a dia e logo se veria o que fazer. A forma leviana como vivia o amor era condenado pela mãe e motivo de orgulho pela avó. Para Lena não tinha sido fácil acompanhar o desenvolvimento da filha, chocando-se constantemente com as suas atitudes que ultrapassavam os limites do rumo previamente traçado por si. Rute era rebelde e teimosa. Mas sempre assumira os erros das suas escolhas, fazendo dos "fins" novos começos. Chegada a idade avançada, mãe e filha revelavam-se cada vez mais afastadas contrariamente ao que seria de esperar entre duas mulheres inteligentes. Mas cada uma admirava a outra. De vivências tão diferentes, percursos em nada similares, amavam-se mutuamente como poucas mães e filhas, só que tanto amor não permitia que cada uma mostrasse as suas preocupações e fraquezas à outra. E nem se sabiam abraçar demoradamente... É que um abraço faz falta e se for demorado ainda mais efeito provoca. Um abraço demorado, obriga a demorarmos-nos na pessoa abraçada, são dois corações a bater próximos um do outro, a trocarem batidas entre si, como quem troca pedaços de vida. Rute atormentava-se com isto e procurava colmatar esta falta de proximidade com a mãe. Às vezes levava um pequeno presente à mãe sem motivo aparente e dizia-lhe que era um miminho - lá ganhava um abracinho. No dia seguinte a mãe retribuía com outro presente e Rute sorria entristecida porque a mãe não percebera a intenção. E Rute foi aceitando esse passar de sentimentos reais mas escondidos para si, convencendo-se que quando a mãe Lena abraçava os netos estaria a abraçar uma extensão de si. E deu folga ao seu coração estalado, acreditando no renovar da Primavera que se anunciava suavemente pelo chilrear nas manhãs frescas.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016
Deixa que te leia
permite que entre na tua história
atribui-me um papel
deixa que fique por perto
que sinta o teu cheiro
quero voar nos teus olhos
acertar o meu coração pelo teu
deixa que o vento leve as páginas rasgadas
escreve comigo cada novo conto
e ponto por ponto chegaremos lá
deixa que te leia
quero encontrar-me em ti
para me perder de seguida
vamos contar a nossa estória juntos
para que juntos a terminemos.
permite que entre na tua história
atribui-me um papel
deixa que fique por perto
que sinta o teu cheiro
quero voar nos teus olhos
acertar o meu coração pelo teu
deixa que o vento leve as páginas rasgadas
escreve comigo cada novo conto
e ponto por ponto chegaremos lá
deixa que te leia
quero encontrar-me em ti
para me perder de seguida
vamos contar a nossa estória juntos
para que juntos a terminemos.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
Sonhos...
Era sempre uma correria.
Ele apanhava o comboio da linha de Sintra e chegava quase em cima da hora de marcar o cartão. Ela entrava num autocarro na margem sul para depois mudar para o metro e chegava bem mais cedo. Dava-lhe tempo de ir à cabeleireira quando chegava antes das 8, ou de beber um café para percorrer as montras com o olhar antes de entrar no edifício.
A meio da manhã, trocavam uns beijos fugazes no elevador entre as entradas de colegas em cada andar, para seguirem para um break. Todos já desconfiavam que ali havia coisa, os olhares brilhantes que trocavam iluminavam cada sorriso envergonhado que disfarçavam com palavras curtas.
Depois, era passar o resto da manhã a desejar a hora de almoço. Hora de almoço... nem almoçavam na maior parte das vezes ! A paixão dominava os dois de uma forma que alimentava todo o corpo. Sem quererem dar nas vistas, o primeiro que saísse esperava na plataforma do metro. E lá iam os dois até ao jardim do Campo Grande quase todos os dias, trocar beijos e abraços, palavras de amor... Não havia fome, não havia frio, não havia nada que interferisse naquele tempo. Muitas vezes de cara colada a olhar os patos que deslizavam no lago, o silêncio tomava conta do momento enquanto os perfumes dos dois se misturavam pelo calor emanado dos corpos. "Que horas são ?" E abotoava-se o botão atrevido, vestiam-se os casacos e corriam de novo para chegar a horas. Ofegantes, corados, de sorrisos rasgados entravam e proferiam o "boa tarde".
A tarde decorria idêntica à manhã. Nem sempre havia a despedida para o dia seguinte porque tudo isto seria contínuo, sem fim. Seria um sonho, com uma casa perto da praia e uma família numerosa que se juntaria aos fins de semana e férias com os atritos familiares habituais.
Seria. Mas como em qualquer sonho há sempre o momento em que se acorda.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
Não pude deixar de dar (mais) um abraço à minha filha pela sua iniciativa e espírito empreendedor, não baixando os braços e muito menos deixar levar-se por promessas que custam a cumprir-se, para além do bom gosto que demonstrou. Perguntou-me se podia imprimir uma máscara para pintar porque todos os meninos das outras salas já andavam a brincar com máscaras que fizeram e na sala dela ainda nem começaram... Está aqui o resultado da ideia que nasceu da noite para o dia ! Apenas ajudei a recortar.
Já com o fato de carnaval foi idêntico. Idealizou um fato de Cleópatra que não conseguimos encontrar. Compramos um de rapaz e apenas mantivemos o vestido branco pois tudo o resto fez aqui a mamãe com as ideias da filha :) É preciso é querer e ter materiais que dê para adaptar. Ok, e talvez um bocadinho de talento para a obra...
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
FALA-ME DE AMOR
DO AMOR E DA ESCRITA
por Margarida Rebelo Pinto
DO AMOR E DA ESCRITA
por Margarida Rebelo Pinto
"Escrever é uma droga dura", dizia-me o António Lobo Antunes há 15 anos, quando almoçávamos uma vez por semana numa tasca dentro de uma garagem nos Moinhos da Funcheira. Ninguém tem uma existência completa se não visitar lugares como os Moinhos da Funcheira, onde o planeamento urbano nunca existiu, nem tão pouco licenças para as habitações lá construídas. Casas erguidas sem a mão de arquitetos ou engenheiros, com escadarias por fora a cruzar a vista de janelas, azulejos desirmanados nas fachadas, telhados tortos e cercas de diferentes desenhos, frutos de recolha em ferro-velho, lixo e acaso.
"Parece que já estão a licenciar isto", dizia o António com o seu olhar líquido e vago, o mesmo olhar de Bukowski nas entrevistas, aquela expressão de quem já vive tão chateado que nada nem ninguém o pode chatear mais. Bebíamos vinho ao almoço, o António com gosto e eu por cerimónia, a mousse de chocolate era deliciosa e troçávamos do mundo com aquela crueldade subtil que só os escritores partilham.
"A escrita é uma droga dura, agora a bicicleta pensa que isto é fácil, mas vai ver daqui a uns anos quando a sua vida for um inferno", dizia-me enquanto acendia um cigarro e eu respondia-lhe "não seja tão negativo António", porque pensava que ele era um fatalista sem cura, e afinal agora dou-lhe razão. Nunca me importei que me chamasse bicicleta porque sempre que o fazia, o seu olhar ficava menos baço e subia-lhe à cara um sorriso fácil de miúdo de liceu.
Tinha razão, o António. Todos os dias de manhã cedo me sento à secretária, quando embalo e as palavras chegam sem atrito o dia é bom, mas se por acaso não vêm, fico à espera como a mulher da canção do Chico Buarque, "sentada, pregada na pedra do porto, com o seu único e velho vestido cada dia mais curto". A escrita e o amor são muito parecidos, ou então sou eu que os vivo de igual forma. O escritor aprende a fazer tudo em silêncio. Mesmo aqueles que preferem escrever em cafés, usam o ruído em volta para se isolarem do mundo. Escrever e amar são atos solitários. Cada um escreve como sabe e ama como pode. Escrevemos com erros, amamos com ainda mais erros. Amamos de menos e demais, no tempo errado e de modo inadequado, muitas vezes amamos mais quem não nos sabe amar do quem merece o nosso amor. Acreditamos que amamos mais os filhos do que eles nos amam, pensamos que esquecemos quem amámos, pensamos que o nosso amor vence tudo quando a vida vence quase sempre o amor. O mundo é todo nosso e conseguimos agarrá-lo enquanto escrevemos, o mesmo se passa quando amamos. Nunca temos fome, nem sede, nem sono, nem medo de falhar. O amor empresta-nos uma capa de super-heróis. Vencemos tudo, só não nos vencemos a nós mesmos, porque o amor pode dar cabo de nós.
Nunca mais fui almoçar aos Moinhos da Funcheira, imagino que as casas já foram silenciadas e que as ruelas de terra batida já se civilizaram com a chegada do deus alcatrão, mas quando me lembro do António e das nossas conversas, oiço o meu coração a dar-lhe razão. O amor é uma droga dura, nem todos aguentam, e quando nos entra para as veias, é muito difícil esquecer tudo o que nos faz sentir. Amamos sempre, porque se não amarmos, temos a sensação de que o mundo acaba. Na verdade nunca acaba, quem acaba somos nós, mas se não vivermos para contar o que vivemos, já cá não estamos para contar como foi, portanto vai dar ao mesmo. Ainda assim, é melhor amar do que não sentir nada no peito e usar o coração como uma máquina de fazer massa, fazer fios das emoções e deixá-las cair num prato, como pasta para carbonara.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
Também guardo mágoas. E das grandes, pelo menos para mim. Tenho memórias que me assolam quando menos espero e tenho de viver com elas. E não as invento nem adultero. São o que foram e serão. Mais. Não estou sempre a falar delas, embora reconheça que algumas podem ter contribuído para certos bloqueios com que me deparo no quotidiano. Não lhes chamo traumas. Não me sinto traumatizada. Só não quero que filho(a) meu passe pelo mesmo. E considero que sou uma adulta equilibrada. Não sei o futuro nem quero saber. Vamos vivendo. Fazemos-nos ao caminho e lá vamos. Tudo o que precisares poderás contar comigo, pois mesmo que não queiras vou ajudar-te. Já desisti de chamar-te à razão, à realidade, à verdade. O teu ego precisa de atenção, eu sei. Mas já agora... alguma vez te perguntaste o que terei sentido ao assistir à tua perda de sentidos e queda no chão depois da ingestão daquela dose de comprimidos, ver levarem-te em braços para uma viatura que atingiu uma velocidade louca para chegar ao hospital enquanto te via a espumar da boca ? Jamais esquecerei.
Subscrever:
Mensagens (Atom)