terça-feira, 21 de abril de 2015



É assim. Quando me desvio da rota de almoço é porque a minha presença é encaminhada para outro lado, faço falta noutro sítio. Hoje, como os parasitas começaram a atacar a minha patuda, decidi ir comprar o desparasitante. Alterei o caminho sem alterar o destino. E eis que dou com um corpo masculino deitado no chão, encolhido, pele envelhecida pela vida ao sol, mãos calejadas, encardidas, cheiro a alcoól... à sua volta uma rapariga sem saber o que fazer. Eu sem telemóvel. Fui falar com ela e chamou-se o INEM com o seu telemóvel. Abria-se uma janela daqui e dali, passavam pessoas a olhar, outras paravam e retomavam depois o caminho, outros ficaram até ao desfeche. Todos disseram o mesmo: "ah... é bêbado!". Se é todos os dias, ou se está esporadicamente, o que interessa isso ? Se socorro uma abelha de asa empenada no chão, mesmo sabendo que não voa mais, não socorro um humano porquê ? Deixo-o ali ? a definhar ? Bebeu ? há solução ! Felizmente juntou-se um casal a nós e ficamos com o senhor até que viessem os paramédicos. A rapariga que fez a chamada, deixou-me o telemóvel na mão e foi trabalhar. Confiou. (É desta fibra que todos devíamos ser feitos). Fomos mantendo conversa com ele, acarinhando-o com festas e pegando-lhe na mão. O que o levará a beber daquela maneira ? Chegou o INEM. Não foi surpresa verem quem era a vítima a socorrer. Era o terceiro dia que lhes calhava a mesma vítima pelos mesmos motivos. Já o conheciam... Podem dizer-me: "e ocupou-se uma viatura de emergência para uma situação destas..." e eu volto a perguntar, deixava ali o indivíduo no chão ao abandono sem saber se seria diabético ou outra coisa qualquer ??! que raio de "pessoas" é que há neste mundo ?... Estou perfeitamente tranquila com a minha consciência. E a rapariga do telemóvel também.

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