quarta-feira, 28 de junho de 2017

Imagem relacionadaEla, a minha princesa, tem algumas dificuldades que os outros aceitem a sua maneira de estar no mundo. Não que tenha dificuldades em fazer amizades pois toda ela é sorrisos e vontade de conhecer o outro. Acontece que sempre foi muito estimulada para questionar e procurar autonomamente as respostas (mea culpa). Mas todo o desejo de conhecer, toda a curiosidade natural é inata a esta menina. Já nasceu assim, não fui eu. É certo que sempre falei muito com ela de forma muito íntima enquanto estava na minha barriga. Desde que soube que estava grávida, estabelecemos um contacto único e especial, principalmente ao saber que vinha aí outra mulher, outro ser guerreiro. Falava com ela a sós (tal como hoje) tanto com assuntos de felicidade como de preocupação, dando-lhe exemplos e mostrando como poderia utilizá-los no futuro a seu favor para evitar situações menos boas ou conquistar vitórias. E ela respondia-me com movimentos na barriga. Quando eu estava triste ou aborrecida com algo, a ligação era extrema e tenho a certeza que sentia o mesmo que eu, e juntas lá enfrentávamos o mundo. Mas o cordão umbilical agora é virtual. Foi cortado. Ela tem as situações dela e eu as minhas. Vamos falando, partilhando, abrimos caminho juntas muitas das vezes, noutras alturas tenho de defender a minha cria desses abutres ignorantes que desconfiam de tudo quanto é diferente, daquilo que não percebem. E vem-me ao pensamento a caça às bruxas, mulheres virtuosas, inteligentes, que conheciam a natureza e através dela curavam os enfermos, poderosas detentoras de conhecimento diverso, de anatomia, etc. Estamos no sec. XXI mas a mentalidade de muitos ficou lá atrás na Idade Média. E ela que gosta tanto de não ser igual a todos. Como a ovelhinha preta do rebanho que fez a diferença embora ela não queira ser como os outros, quer mais que os outros sejam como ela (conhecem a história ?https://www.youtube.com/watch?v=VcyRy7Gpb7A) diz que na escola lhe chamam gótica soft. Já foi com o cabelo roxo para a escola e até fez sucesso aparentemente – e fica-lhe tão bem ! Mas não consegue ter conversas como gostava com os colegas. Ela fala de cinema e de realizadores de cinema e conhece-os pelo seu estilo e filmes. Sabe o nome dos actores. Lê as críticas antes do filme sair em Portugal. Se estiver em inglês e tiver alguma dificuldade, faz copy/paste no tradutor e voilà ! Conhece as músicas antigas tipo anos 80/90 e canta-as explicando o que diz a letra. Filosofa sobre esoterismo e experiências paranormais. É fascinada por História, sobretudo a que diz respeito à antiga Grécia e Egipto, envolvendo Mitologia, claro.  Adora arte. Faz coisas lindas com as mãos, seja a pintar, a desenhar, com tecidos, linhas… Escreve de forma maravilhosa contando histórias com início, desenvolvimento e fim, sempre com alguma lição a retirar. Não compreende injustiças. Quer ajudar todos que aparecem pela frente a pedir. É um doce de menina. Hoje disse-me que prefere a escola pública que frequenta à escola particular onde está em ATL, “nesta não ia ser feliz mãe”. Pois não. Estaria mais limitada, com meninos híper mega protegidos que “não conhecem o filme O Tubarão, como é possível já com remakes recentes, mãe ?” Tem 11 anos e uma memória enorme cujo início roça o dia em que completou os três anos. Como ela diz, “há coisas que eu não me queria lembrar mas que ficaram cá por qualquer motivo”. É muito boa aluna mas ainda não tem pedalada para não se deixar afetar pelos efeitos externos de vária ordem e acaba por se prejudicar. É uma wonder woman capaz de mudar o mundo. Adora bebés. Anda descalça sempre que pode e quando descontrai é bastante distraída – tropeça, derruba coisas... Talvez por ter uma atividade cerebral sempre acelerada, precisa de dormir muitas horas (10 a 12 é o ideal). Gostava que a instituição “escola pública” estivesse preparada para aceitar e soubesse estimular crianças assim. A minha não é única bem sei, mas é a minha filha. Sente-se muitas vezes marginalizada porque foge ao esteriotipo das coleguinhas que querem maquilhar-se e puxar os calções para mostrar a coxa assim que a mãe vira as costas. As educações não são as mesmas nem dadas da mesma forma. A minha cresce a saber aceitar as diferenças. Ainda no outro dia me falou de uma cantora que assumiu a bissexualidade e eu fiz um qualquer comentário que ela achou depreciativo e disse “não nos cabe a nós julgar as opções dela, mãe”. A minha menina de ouro é assim e tenho muito orgulho nela. Vai ser grande. Vai ser do tamanho dos seus sonhos !
Imagem relacionada


Sem comentários:

Enviar um comentário