Percorro ruas e ruelas, caminho e olho em frente, observo as pessoas e tento interpretar cada expressão, cada ruga, cada olhar. Entre corridas, telefonemas, sorrisos, conversas, há o silêncio que cada um carrega dentro de si. O que vemos por fora, mascara o que está por dentro dessa pessoa. Isso acontece sobretudo nas camadas média/alta da sociedade. Porque não mostrar o que se é, quem se é, como se é ? Os menos abastados são de facto aqueles que vivem na verdade. Na sua pobreza de bens, pode sobressair a sua grandeza interior sem intenção alguma de ofuscar o seu igual. Ao passo que os outros na condição oposta decoram-se exteriormente, sentem necessidade de não igualar o seu semelhante mas sim distinguir-se entre tantos que têm objectivos idênticos aos seus. Triste. É triste no mínimo que assim seja. As pessoas perdem aos poucos a noção da realidade, das prioridades, dos sentimentos e mesmo da ética e valores. E quando dão por si, no limite em que sufocam as aparrências e bens adquiridos a crédito, querem despojar-se de tudo e voltarem à condição inicial que roça a singularidade pura do "eu". Aquele "eu" em que todos somos iguais. Afinal, não nascemos todos nús ?
Sem comentários:
Enviar um comentário