.
Perguntou-me se achava que “o
medo é um bom professor”. Impus uma pausa no que estava a fazer. Pensei por
breves segundos. Recordei os meus medos de criança rapidamente. O medo do escuro
e do monstro debaixo da cama. O medo de me perder dos meus pais ou que alguém me
fizesse mal. O medo da morte. Pensei nos medos de adulta, quase os mesmos mas com perspetivas diferentes. O medo de perder o emprego equivale ao do escuro,
ficaria à toa por uns tempos até dar com alguma “parede”. Os monstros existem
embora disfarçados e não estão debaixo da cama, aparecem nas esquinas da vida
quando menos esperamos. Continuo com medo de perder os meus pais e quem de mim
depende. Da morte… ela é inevitável, não há que ter medo. Mas não foi o medo que
me ensinou alguma coisa. O medo é uma sombra que se instala no pensamento e que
começa por criar ansiedade, evoluindo para o medo que poderá transformar-se em
pavor ou fobia. O medo não é inato, é adquirido. E leva inevitavelmente ao
fracasso. Mas o fracasso deve ser aceite como experiência que integra a
evolução de um qualquer processo. O medo tem de ser abandonado para permitir o
fracasso acontecer sem receios. Está em nós o poder de evitar o medo, realizando
os desejos do nosso coração, contrariando o que nos causa essa ansiedade. O
medo normal pode ser bom para evitar situações de risco extremas, mas o medo
anormal é mau e destrutivo tanto física como emocionalmente. O medo é incapacitante, retira-nos esperança,
tolda-nos a criatividade, paralisa-nos a curiosidade. O medo faz parte
de um tipo de mecanismo de aprendizagem, mas também evolutivo de sobrevivência
da espécie, e do indivíduo particularmente. Ao enfrentarmos o medo, ficamos
mais fortalecidos e corajosos. Se
o medo é um bom professor ? “Não”, respondi sem lhe dar quaisquer explicações. “Eu
também acho que não, mãe” – e lá foi ela, leve e fresca, sem medos, afinal só
queria confirmar a sua convicção.
Sem comentários:
Enviar um comentário