É aborrecido quando pensamos que temos amigos que o são e
afinal acabamos desiludidos. Isto sempre aconteceu – não há nada de novo. Todas
as pessoas passaram por isto de uma forma ou de outra. O que acho no mínimo
caricato, é que depois de tanta experiência, depois de tantas amizades
falhadas, continue a acontecer como se fosse a primeira vez. Cria-se uma
relação com pontos comuns, partilham-se umas gargalhadas no meio de umas
confidências e depois… termina de uma forma tão inesperada como começou ! quer
dizer, terminar não termina, mas altera-se a relação necessariamente pois é
inconcebível continuar com tanto desencontro e intolerância a pequenos detalhes.
E custa. Custa porque aquela pessoa faz parte da nossa vida. Quase diariamente
há um contato, uma palavra. E custa quando queres desabafar sobre algo que te
preocupa dia e noite e te apercebes que o teu problema não é significativo
perto dos milhentos problemas dessa pessoa amiga, que antes de te ouvir expõe
uma lista infindável de coisas que lhe correm mal. E calas-te. E guardas. Susténs
a respiração e o grito fica para mais tarde. Agora não convém. Mas depois
também não. E guardas. Adias para não mais falares com essa pessoa sobre o
assunto que te preocupa, e até é grave. Mas não interessa. Tudo é relativizado
e percebes que tens de fazer o caminho sozinho independentemente do tempo que
fará. E se caíres com o cansaço ou doença, descansa ou medica-te. Mas nunca
olhes para trás. O caminho é em frente. E em tantos caminhantes que irás
encontrar, estará um que irá ouvir-te mesmo que em silêncio porque não precisarás
de dizer algo para que te compreenda. Vai. Em frente é o caminho.