terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Ultimamente na imprensa dita cor de rosa, tem aparecido demasiadas vezes a palavra “traição”. Esta é uma palavra com uma conotação demasiado negativa. Quando se fala de traição associa-se automaticamente a um relacionamento amoroso em que uma das partes foi infiel. Mas há muitas maneiras de trair. Não querendo ir por aí, gostava de explorar outro campo. A palavra em si é muito ambígua. Tem a sua origem do latim, traditione, entrega. Numa linguagem militar significa fazer a passagem, entregar nas mãos de alguém as armas da cidade, como que um ensinamento. Mas, na sociedade atual ficámos pelo oposto: infidelidade !
Analisemos de outra forma. Alguém consegue ter um amigo “completo”, um amor “completo” que corresponda a todas as expetativas, que não lhe achemos quaisquer defeitos ? Convenhamos que até era um bocado aborrecido se assim fosse… colávamo-nos a essa pessoa e não precisávamos de mais ninguém ! É bom que haja mais pessoas à nossa volta para que possamos trocar ideias e deparar com outros pontos de vista e, de algum modo evoluirmos e desenvolvermos os nossos próprios ideais. É por isso que temos vários amigos. Temos amigos que diferem entre si, cada um tem as suas características. Umas agradam-nos mais que outras. Com uns partilhamos umas coisas e com outros partilhamos outras. E há outras que partilhamos com todos. E como amigo não empata amigo, somos todos felizes. Chegamos até a juntar os amigos todos !
Falemos agora de um relacionamento amoroso. Um casal unido pelo matrimónio religioso. “Ser fiel, cuidar e amar até que a morte nos separe” – errado. Se somos de facto crentes, acreditamos na vida para além da morte. Não poderão 2 espíritos amar-se no além ? Parece estarmos a dar importância acrescida à parte física do relacionamento aqui na Terra… Alguém tem o cônjuge ideal, completo ? Duvido. E ama-o menos por causa disso ? Não. E por isso mesmo deseja vê-lo feliz e faz, a seu ver, tudo o que possa contribuir para esse estado de bem-estar. E se falta algo a um dos dois ? tem que se calar e reprimir esse sentimento ? é condenável que procure um outro “amor” que consiga preencher a lacuna aberta por quem não consegue completá-la por mais que tente ? Dir-me-ão: assim não funciona, isso não é amor verdadeiro. Não concordo. Tem o capricho e volta sempre para casa. Não disturba o ambiente familiar. Anda feliz, espalha felicidade. O capricho é isso mesmo, não tem futuro, é apenas aquela parte que falta no relacionamento estável - que prevalece perante a sociedade e que se pretende perfeito (mas não é). E assim, se mantiveram a maior parte dos casamentos dos nossos pais e avós, permitindo a facadinha no matrimónio para depois aparecerem todos felizes sendo exemplo para os mais novos.
Estamos de passagem. A vida não vale nada. De um momento para o outro caímos e já não nos levantamos. Basta estar vivo. Ao menos que sejamos felizes, que aproveitemos a vida. Levamos demasiado tempo a perceber mas há uma altura em que se dá o clic e percebemos que o tempo não para, e corre cada vez mais depressa, e queremos ser felizes, e queremos ter o que nos pertence mesmo sabendo que não temos nada nem somos de ninguém. Tanta burocracia, tanto poder de posse com tudo, para quê ? Nascemos nus. E não sobra nada.

Traição, traditione, entrega, passagem, ensinamento… Acrescento: partilha, preenchimento !

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