Ultimamente
na imprensa dita cor de rosa, tem aparecido demasiadas vezes a palavra
“traição”. Esta é uma palavra com uma conotação demasiado negativa. Quando se
fala de traição associa-se automaticamente a um relacionamento amoroso em que
uma das partes foi infiel. Mas há muitas maneiras de trair. Não querendo ir por
aí, gostava de explorar outro campo. A palavra em si é muito ambígua. Tem a sua
origem do latim, traditione, entrega.
Numa linguagem militar significa fazer a passagem, entregar nas mãos de alguém
as armas da cidade, como que um ensinamento. Mas, na sociedade atual ficámos
pelo oposto: infidelidade !
Analisemos
de outra forma. Alguém consegue ter um amigo “completo”, um amor “completo” que
corresponda a todas as expetativas, que não lhe achemos quaisquer defeitos ?
Convenhamos que até era um bocado aborrecido se assim fosse… colávamo-nos a
essa pessoa e não precisávamos de mais ninguém ! É bom que haja mais pessoas à
nossa volta para que possamos trocar ideias e deparar com outros pontos de
vista e, de algum modo evoluirmos e desenvolvermos os nossos próprios ideais. É
por isso que temos vários amigos. Temos amigos que diferem entre si, cada um
tem as suas características. Umas agradam-nos mais que outras. Com uns
partilhamos umas coisas e com outros partilhamos outras. E há outras que
partilhamos com todos. E como amigo
não empata amigo,
somos todos felizes. Chegamos até a juntar os amigos todos !
Falemos
agora de um relacionamento amoroso. Um casal unido pelo matrimónio religioso.
“Ser fiel, cuidar e amar até que a morte nos separe” – errado. Se somos de
facto crentes, acreditamos na vida para além da morte. Não poderão 2 espíritos
amar-se no além ? Parece estarmos a dar importância acrescida à parte física do
relacionamento aqui na Terra… Alguém tem o cônjuge ideal, completo ? Duvido. E
ama-o menos por causa disso ? Não. E por isso mesmo deseja vê-lo feliz e faz, a
seu ver, tudo o que possa contribuir para esse estado de bem-estar. E se falta
algo a um dos dois ? tem que se calar e reprimir esse sentimento ? é condenável
que procure um outro “amor” que consiga preencher a lacuna aberta por quem não
consegue completá-la por mais que tente ? Dir-me-ão: assim não funciona, isso
não é amor verdadeiro. Não concordo. Tem o capricho e volta sempre para casa.
Não disturba o ambiente familiar. Anda feliz, espalha felicidade. O capricho é
isso mesmo, não tem futuro, é apenas aquela parte que falta no relacionamento
estável - que prevalece perante a sociedade e que se pretende perfeito (mas não
é). E assim, se mantiveram a maior parte dos casamentos dos nossos pais e avós,
permitindo a facadinha no matrimónio para depois aparecerem todos felizes sendo
exemplo para os mais novos.
Estamos
de passagem. A vida não vale nada. De um momento para o outro caímos e já não
nos levantamos. Basta estar vivo. Ao menos que sejamos felizes, que
aproveitemos a vida. Levamos demasiado tempo a perceber mas há uma altura em
que se dá o clic e percebemos que o tempo não para, e corre cada vez mais
depressa, e queremos ser felizes, e queremos ter o que nos pertence mesmo
sabendo que não temos nada nem somos de ninguém. Tanta burocracia, tanto poder
de posse com tudo, para quê ? Nascemos nus. E não sobra nada.
Traição,
traditione, entrega, passagem,
ensinamento… Acrescento: partilha, preenchimento !