sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Foges de quê ?
- Fujo do tempo. Da cronologia do tempo. Não do mau tempo, tempestades e assim. Fujo do tempo que me envelhece, que me verga com responsabilidades, que me marca com o sol, que me pinta brancos os cabelos outrora alourados. Uma corrida sem paragens. Um dia apanho-o e nunca mais envelheço.
Hum… só foges disso ?
- Não. Fujo de pessoas. De vozes que não quero ouvir porque lhe adivinho as palavras. Fujo de encontros que nada acrescentam ao meu bem-estar psicológico. Fujo de pessoas de que gosto porque acho que as canso. Fujo de pessoas que gostam de mim porque às vezes não quero que gostem. Fujo de situações que não me apetece atravessar. Fujo de sorrisos cínicos, de falsas modéstias. Fujo muitas vezes de fazer o que gosto.
És feliz ?

- Sou feliz com o que tenho. Mas posso ser mais. Falta-me tempo. Tempo para ser livre no tempo. Esse tempo de que fujo foge de mim. Se eu tivesse mais tempo ele não se gastava tão depressa. Seria preenchido e aproveitado com todo o tempo.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Há dias e há dias… hoje é um daqueles. Um dia sem sal, sem tempero. Brilha o sol mas falta o sabor. Falta a delícia de degustar um soul kiss daqueles que traduzem verdadeiramente a expressão citada. Voltar a sentir essas sensações primárias que anunciam momentos eternos em que o tempo fica suspenso numa respiração interrompida. Que falta faz a loucura de roubar um beijo a quem não espera mas deseja e deixar um sorriso em troca. E depois correr por campos floridos deixando um rasto de felicidade e acabar enrolado em abraços e juras de riso tocando o êxtase do puro sentimento !
Sempre sonhei muito.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Ao longo da vida temos tantas fases que às vezes até cansa. E quando somos mães… ainda é pior. Estamos sempre a ouvir alguém a dizer-nos com aquele ar de quem sabe mais que nós a respeito dos nossos próprios filhos: “isso é só uma fase…” Mas as ditas fases demoram a passar e outras  por vezes até se repetem, o que nos deixa ainda mais desanimadas. Mesmo em adultas, há fases que temos de atravessar como quem atravessa um deserto sob calor intenso, ou uma trovoada de chuva forte sem qualquer abrigo. Mas temos vantagens. Apesar de entrarmos nas obrigatórias fases como adolescentes temos a nosso favor fatores que não tínhamos. A tolerância, o conhecimento e sobretudo a maturidade. De uma forma ou de outra, chegamos a conhecer as fases da própria fase que atravessamos. Toleramos as suas adversidades e com sabedoria conseguimos ultrapassá-las. Tudo coisas que só a maturidade traz. Não é a idade. Não é a experiência ou os cabelos brancos. Não. A maturidade é diferente. Trata-se de um estádio importante e enriquecedor no processo de caminhada da vida. Permite-nos encarar e enfrentar o dia a dia de forma mais tranquila, podendo até por vezes prever o que vai acontecer e saber exatamente quanto tempo vai demorar. É só sentar e deixar que aconteça. J

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Ultimamente na imprensa dita cor de rosa, tem aparecido demasiadas vezes a palavra “traição”. Esta é uma palavra com uma conotação demasiado negativa. Quando se fala de traição associa-se automaticamente a um relacionamento amoroso em que uma das partes foi infiel. Mas há muitas maneiras de trair. Não querendo ir por aí, gostava de explorar outro campo. A palavra em si é muito ambígua. Tem a sua origem do latim, traditione, entrega. Numa linguagem militar significa fazer a passagem, entregar nas mãos de alguém as armas da cidade, como que um ensinamento. Mas, na sociedade atual ficámos pelo oposto: infidelidade !
Analisemos de outra forma. Alguém consegue ter um amigo “completo”, um amor “completo” que corresponda a todas as expetativas, que não lhe achemos quaisquer defeitos ? Convenhamos que até era um bocado aborrecido se assim fosse… colávamo-nos a essa pessoa e não precisávamos de mais ninguém ! É bom que haja mais pessoas à nossa volta para que possamos trocar ideias e deparar com outros pontos de vista e, de algum modo evoluirmos e desenvolvermos os nossos próprios ideais. É por isso que temos vários amigos. Temos amigos que diferem entre si, cada um tem as suas características. Umas agradam-nos mais que outras. Com uns partilhamos umas coisas e com outros partilhamos outras. E há outras que partilhamos com todos. E como amigo não empata amigo, somos todos felizes. Chegamos até a juntar os amigos todos !
Falemos agora de um relacionamento amoroso. Um casal unido pelo matrimónio religioso. “Ser fiel, cuidar e amar até que a morte nos separe” – errado. Se somos de facto crentes, acreditamos na vida para além da morte. Não poderão 2 espíritos amar-se no além ? Parece estarmos a dar importância acrescida à parte física do relacionamento aqui na Terra… Alguém tem o cônjuge ideal, completo ? Duvido. E ama-o menos por causa disso ? Não. E por isso mesmo deseja vê-lo feliz e faz, a seu ver, tudo o que possa contribuir para esse estado de bem-estar. E se falta algo a um dos dois ? tem que se calar e reprimir esse sentimento ? é condenável que procure um outro “amor” que consiga preencher a lacuna aberta por quem não consegue completá-la por mais que tente ? Dir-me-ão: assim não funciona, isso não é amor verdadeiro. Não concordo. Tem o capricho e volta sempre para casa. Não disturba o ambiente familiar. Anda feliz, espalha felicidade. O capricho é isso mesmo, não tem futuro, é apenas aquela parte que falta no relacionamento estável - que prevalece perante a sociedade e que se pretende perfeito (mas não é). E assim, se mantiveram a maior parte dos casamentos dos nossos pais e avós, permitindo a facadinha no matrimónio para depois aparecerem todos felizes sendo exemplo para os mais novos.
Estamos de passagem. A vida não vale nada. De um momento para o outro caímos e já não nos levantamos. Basta estar vivo. Ao menos que sejamos felizes, que aproveitemos a vida. Levamos demasiado tempo a perceber mas há uma altura em que se dá o clic e percebemos que o tempo não para, e corre cada vez mais depressa, e queremos ser felizes, e queremos ter o que nos pertence mesmo sabendo que não temos nada nem somos de ninguém. Tanta burocracia, tanto poder de posse com tudo, para quê ? Nascemos nus. E não sobra nada.

Traição, traditione, entrega, passagem, ensinamento… Acrescento: partilha, preenchimento !

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

É de facto aqui que me sinto bem ! O meu espírito sente-se integrado ! Sons. Música. Fortes, pianos, crescendos, diminuendos, sforzandos, pianos súbitos, stacattos, allegro, andante, sherzo, presto, prestíssimo ... Sentimentos ! - estímulo para os sentidos. A música não só traduz sentimentos e estados de espírito como os transcende, supera mesmo ! Ela entra em mim (ou sai) e a pulsação altera-se consoante o desenvolvimento do andamento. Beethoven ! Quão intensa a sua música ! Que riqueza de emoções ! Que contrastes, que perfeição, é inteira a sua música, completa, maravilhosa !

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.


Fernando Pessoa

domingo, 9 de fevereiro de 2014

É como... Vamos lá a ver.
O corpo é composto por matéria e energia. A matéria incorpora o que a energia capta. Se a alma deseja, o corpo anseia satisfazer. Não acontecendo, a alma transborda de energia. E não sendo verbalizada ou demonstrada de alguma forma pelo corpo, aumenta, cresce. Paira no ar confusa. Choca com outras energias de outras almas sedentas do seu conforto. E um dia o tempo para. E duas almas gémeas fundem-se. E os seus corpos encaixam-se. E as trocas acontecem. O sol fica mais intenso onde quer que brilhe. A chuva ganha mais sabor. Tudo faz sentido quando 2 corpos se amam e as suas almas se integram mutuamente.