quinta-feira, 12 de setembro de 2024

 Olhar não é ver.

Tenho (re)encontrado pessoas que há muito tempo não se cruzavam no meu caminho. Pessoas da minha idade mais coisa menos coisa. Pessoas com quem partilhei momentos, gargalhadas, sonhos, ambições... E hoje olho para a maioria dessas pessoas e vejo olhos tristes sem brilho, corpos cansados e doridos, alguns disformes, outros onde sobram pele mas a essência está lá ! E por breves momentos ao recordar histórias com alguns anos, volta o brilho ao olhar, e a alma dá sinais de alegria. O que falhou nestas vidas ? Teriam feito tudo ao seu alcance ou será que se deixaram levar pela alegria de terceiros ? Vivem a sua vida ou a de outros ? Não se enganem a si próprios.

Ouvir não é escutar.

Estamos na era das mensagens pela net, poucos falam entre si, poucos telefonam e mesmo na presença física, é frequente que os indivíduos peguem no telemóvel e digitem o que quer que seja durante uma conversa com quem estão. Não basta estar ali e ouvir, é preciso escutar. O tom de voz, a potência da mesma, a fluidez, as palavras escolhidas, o assunto, e na presença dar atenção à expressão física das mãos, da face, dos olhos, da posição do corpo. Escutar não é para todos pois pressupõe neutralidade na opinião mas envolvimento emocional na medida em que se estabelece confiança.

Fazer não é praticar.

"Eu faço exercício físico" ok, não fazemos todos ?? mas praticar, ou seja, fazer com frequência e assiduidade... pois. Até mesmo um pequeno hábito, só se torna hábito se o praticares pelo menos 28 dias seguidos. "Ah, eu bebo água morna todos os dias" - a sério? e fizeste isso durante quanto tempo ? Há uma série de coisas que as pessoas fazem mas que com elas não resulta porque não praticaram, não fizeram durante o tempo necessário, não se tornou um hábito. E isto pode ser aplicado a muuuuitas coisas do nosso dia a dia.



quinta-feira, 5 de setembro de 2024

 Estou farta de me fazer de valente. Farta da carapaça que visto para enfrentar o mundo. Farta da máscara que afasta até os que me conhecem e construíram. São anos e anos disto e a carapaça vai ficando velha e enfraquecida, e pesa-me. Mas mesmo que queira despi-la, deixá-la para trás, não dá. Mesmo que queira mostrar que também me importo, que tenho fraquezas como todos, que também eu tenho medos... não há quem me console, quem me abrace simplesmente em silêncio à espera que acalme, não há quem compreenda verdadeiramente o que sinto porque está cá dentro e não fui habituada a partilhar mágoas porque isso é distribuí-las e perpetuá-las. Não. Mais uma vez engulo as lágrimas, lavo a cara e ponho de parte. O tempo resolve. Só não sabemos se dá tempo... E lá vou eu com um sorriso falso na cara para não mostrar o que vai na alma. Tudo se resolve de uma forma ou de outra. E a questão pertinente é: sou valente ou uma grande mentirosa ??... Sou uma farsa que aparenta uma paz fictícia, mas o turbilhão é enorme. Um dia o coração cansa-se. Será a vez de outros chorarem. Ou não.




segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

 A morte. Apetece-me falar da morte. Inadvertidamente quando pensamos na morte vem-nos à mente uma imagem uma figura com cara de caveira ou sem rosto, sob uma capa preta de capuz, erguendo uma catana. O preto simboliza o medo, o desconhecido, as trevas, o escuro, a falta de luz, um poder autoritário. Sim, até eu que estou aqui a questionar, da última vez que senti a presença da morte a vir buscar um ser, me referi a ela como "a senhora de negro". Porquê esta necessidade de humanizar a morte, personificá-la ? Até podia ser uma figura masculina ! Podia estar vestido(a) de branco ! Ah e tal, o branco é pureza, é luz, é paz, é serenidade... Ora bem ! Não dizemos "que descanse em paz"? Acho que é próprio do ser humano a necessidade de criar uma imagem da morte, pois que a cada palavra está associada uma imagem ou sentimento. A morte é o objetivo da vida, é a meta que se pretende sob forma de desafio, que ocorra o mais tarde possível numa reta cronológica. (Lê outra vez.) Como todos, também eu gostaria de morrer de repente, sem sofrimento ou demência. Não sei se terei essa sorte. Numa noite há bastante tempo, sonhei que tinha morrido, já não me lembro em que circunstâncias. Mas foi tão bonito, tive uma sensação tão boa, de leveza, de liberdade !... Era como se eu fosse um átomo, uma pequena partícula do ar, movia-me como o vento suave, senti-me leve, feliz, parte integrante de um todo, e tudo via lá do alto, sem pressas, sem peso, sem corpo, eu era tudo e tudo estava em mim! O mais parecido que tive em vida consciente foi uma anestesia que recebi, dada nas veias da mão - aquele líquido quente a invadir docemente a corrente sanguínea, aquela sensação de entrega sem nada poder fazer em contrário... Não sei como será a morte nem no que nos tornaremos. Um fantasma branco ? uma sombra negra ? um espírito invisível ? Sinceramente, acredito que não será nada disso. Mais depressa acredito que ao abandonar este corpo físico, voltarei a ser uma pequena luz como seria antes de encarnar. Estarei certa ? Um dia saberei, quando terminar a minha missão neste plano. Até lá, é viver, aproveitar, desfrutar do momento e fazer o que se gosta.